Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Esta luz coada

Talvez o vento, baloiçando-se nestes fetos arbóreos
Talvez este céu encoberto de Outono
Talvez esta luz coada pelas vidraças embaciadas...

Quem se baloiça? O vento? As folhas? O monumental eucalipto que lá de fora faz de catavento?
As telhas humedecidas pela chuva miudinha...
O cortinado de cambraia ondulando na janela...
A minha taquicardia clamando por socorro...

“Já viste a prenda que eu te trouxe?” – diz ele, ternamente...
Uma serpente. Que se vai desenroscando aos sons ondulantes das flautas de Orfeu inundando os buracos esfarelados das paredes, cheios das avencas frescas, gigantescas, da ribanceira da ribeira

Mas ela não se assusta. Acaricia a serpente! Acaricia-o a ele nos sons redondos que da flauta, se evaporam no ar...

Tomam forma no escuro os tons dourados dos trompetes, da voz rouca de Nat King Cole, das suas ‘Autumn Leaves’...
Ergue-se cada vez mais, a serpente. “Buonanotte amore, tu va dormire e sogni ”. Não, não é Nat King Cole, é Nini Rosso...
Mas a serpente... Cinge-lhes os corpos. Aperta-os, cada vez mais, cada vez mais. Cada vez mais
Buona notte ovunque tu sei
Buonanotte a te, che sei lontano
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