Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

Os países de cultura lusófona celebram a 5 de Maio a língua portuguesa, uma das mais faladas no Mundo, estimando a UNESCO e a CPLP que mais de 265 milhões de pessoas se sirvam do português para comunicarem entre si e para legarem ao Mundo um manancial de cultura, expressa pela história, pelos livros, pelos feitos, pelas raízes, pela memória de uma cultura única e universal.
Tinha razão Fernando Pessoa.
Tiveram razão todos os que a escreveram em Portugal, no Brasil, em Moçambique, Angola, Cabo Verde ou São Tomé.
Mesmo em Timor, Índia ou Guiné.
E antes de Pessoa tinham razão Camões, António Vieira e os que ajudaram a edificar este imenso edifício solidário que projectou o Quinto Império e deixou povos comuns à beira da mesma Pátria.
E ainda que seja importante respeitar os territórios, as fronteiras, os costumes, tradições e história, não é menos relevante dizer que a língua portuguesa serviu para edificar uma pátria comum, como muito bem disse Fernando Pessoa: a minha pátria é a língua portuguesa!
Que pena, então, os atropelos, os acordos sem acordo, a ortografia deficiente, o descuido na fala, o desencontro na construção linguística, a distorção vocabular!...
A televisão seria uma boa forma de ensinar, a imprensa escrita de corrigir, a Escola de formar, os livros de construir, mas para tanto seria necessário que houvesse disponibilidade para respeitar a beleza da língua portuguesa, dando – lhe o doce da pronúncia e o mel do conceito, unidos pela forma única de dizer saudade no respeito pela partida, sempre à espera da chegada, como se o Mundo começasse na palavra mãe e terminasse na palavra amor, para definir uma existência de paz e um doce embalo de purificação espiritual.
Mas não.
Nestas coisas dos sábios há sempre quem se queira arrastar pelos caminhos de uma discutível notoriedade, estabelecendo regras que adulteram a verdade e a vontade, não respeitando o povo que fez a língua, nem os obreiros da palavra que a escreveram e a pensaram em páginas e páginas de história literária cobertas pela poeira do tempo, mas disponíveis para o reencontro da prosa e da poesia com a verdade de quem nasceu, embalado pela cadência única da língua portuguesa, no seu berço da lusofonia.
É em Maio que se celebra a língua portuguesa e se projectam a sua grandeza e a sua importância.
Maio. Mês de Maria.
Mês de mãe. E da rosa das descobertas.
Da que trazemos ao peito, guardada numa redoma de esperança, depois de vermos transformado o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa Esperança.
A Rosa de Santa Maria também é uma flor da língua portuguesa.
Está no coração de quem a ama.


SEGREDOS DE CONFESSIONÁRIO

A Comissão constituída para analisar e quantificar os abusos sexuais na Igreja Católica apresentou as suas conclusões e deu a conhecer que existem cerca de cinco mil vítimas (conhecidas) de padres e de outros membros da Igreja.

É um rosário impressionante de factos que vão desde as insinuações às carícias, masturbação, sexo oral e penetrações consumadas, tanto em rapazes como em raparigas, numa idade média preferencial de onze anos!

A situação mereceu de D. José Ornelas a qualificação de dramática e, muito naturalmente, justifica uma ponderação atenta e cuidada de um problema que não é novo, como se sabe, mas que desde 1995 foi inscrito como crime no Código Penal e desde 2007 tornado público, o que contribuiu para as dimensões trágicas atingidas e agora divulgadas.

É preciso fazer notar que a Comissão apenas contabilizou e analisou os crimes sexuais dos quais teve conhecimento, porque grande parte das vítimas refugiou-se num silêncio temente a Deus e à exposição pública, o que se percebe e justifica.

Perante os factos conhecidos e sabendo-se que muita coisa ficou por dizer, a questão que se coloca tem a ver com o facto de vários homens sentirem o chamamento de Deus e optarem pela vida eclesiástica.

Porque razão o fazem?

Por vocação? Porque a família assim o deseja? Por qualquer desgosto sofrido? Como alimento de alma? Como solução de vida?

Responder a estas questões é essencial, muito mais do que criticar a Igreja Católica por não permitir o casamento dos sacerdotes.

Porquê?

Porque nada obriga a ser Padre e porque ao iniciar os estudos eclesiásticos, os que os seguem saberem muito bem ao que andam, ao que vão e ao que os espera.

Sendo assim e prevaricando, não há desculpa!

O reconhecimento da tragédia não chega. O Papa pedir perdão pelos crimes cometidos não desculpa. O servir-se do Confessionário ou da Sacristia para cometer abusos sexuais, não tem qualquer enquadramento nas tentações e na fraqueza humanas, sendo actos repulsivos e aberrantes.

Por isso torna-se fundamental analisar os candidatos, estudar o seu comportamento, perceber a razão da escolha, avaliar a sua disponibilidade mental para uma entrega total à religião professada, entender as razões espirituais que os vão conduzir ao sacerdócio e, sobretudo, acompanhar o seu comportamento, a sua progressão e o seu crescimento na Igreja Católica.

Não o fazer é permitir que os abusos sexuais sejam continuamente praticados, até mesmo quando já se desempenham altos cargos e se atingem divisas eclesiásticas do mais elevado grau.

Não se sabe se Deus está disposto a perdoar a quem comete crimes destes, quando se deixa uma criança de onze anos marcada para toda a vida.

Creio que não.


A MANIA DAS GRANDEZAS

A Jornada Mundial da Juventude vai trazer a Portugal o Papa Francisco, enquanto representante máximo da igreja Católica e enquanto símbolo do sofrimento de Jesus Cristo, dito filho de Deus, na sua passagem mensageira e transformadora pela Terra, e vai trazer também milhares de jovens, muitos deles acompanhados pelos seus familiares, que comungam dos mesmos ideais de paz, concórdia, amor pelo próximo e crescimento espiritual.

Serão jornadas de fé e de manifestação da unicidade de Deus com os Seres Humanos, percebendo-se ser uma ocasião abençoada para se preparar o Mundo para um futuro melhor, mais digno e de maior transparência.

Francisco já manifestou, por diversas vezes, a sua identificação com os mais pobres, com os desprotegidos pela sociedade, com os marginalizados, com os que sofrem por estarem sós, por não terem trabalho, por não terem casa, por não terem quem olhe por eles e para eles.

Para além dessas manifestações e do seu interesse em querer uma vida pessoal afastada de riquezas e de pompas, afinal mais de acordo com a religião Católica e com a palavra de Jesus, Francisco pôs de parte a ostentação do Vaticano, desde a sua morada às suas vestes, até à forma como se faz transportar e às mensagens que a sua voz irradia, sempre em favor dos mais desfavorecidos.

É nessa zona da sociedade civil que ele se sente bem e é por esse tipo de sofrimento que mais deseja espalhar a sua palavra e nas encíclicas a que dá visibilidade exterior, existem sempre sinais de humildade e de aperfeiçoamento interior.

Por esta razões, não pode estar feliz ao saber que só o palco-altar a construir para a Jornada Mundial da Juventude, onde ele será o personagem principal, vai custar cinco milhões de euros (fora o resto) ao erário público português, acrescentando ainda os custos inerentes à sua deslocação, à sua permanência e às suas outras visitas programadas. A estimativa das despesas relativas à deslocação papal e de tudo o que a envolve anda pelos 160 milhões de euros.

Curiosamente, ou não, porque nada acontece por acaso, Deus transmitiu um aviso a Portugal, deixando-o ao frio do Inverno e Lisboa (temperada por natureza) a viver uma experiência gelada, sobretudo para os sem-abrigo da cidade que ganharam a bondade temporária do Município (o dos 5 milhões para o palco-altar) ao mandar abrir, durante a noite, algumas estações de metro para eles pernoitarem e facultando-lhes, até, a utilização de um pavilhão desportivo, contendo algumas dezenas de camas, a fim de os albergar por uns dias.

Quando o frio abrandar, fecha-se o Pavilhão Desportivo e as estações de metro encerram as suas portas.

Neste momento e por tal razão estará o Papa Francisco a pensar o mesmo que muitos de nós: os cinco milhões de euros (fora o resto, num total de 160 milhões) davam e sobravam para construir infraestruturas destinadas a albergar os sem-abrigo da cidade, em zonas devolutas ou expectantes de Lisboa, suficientes para diminuir a desgraça em que caíram pelas mais diversas razões.

E dava para comprar camas funcionais, almofadas, lençóis e cobertores. Não daria a bondade social para lhes enxugar as lágrimas, mas certamente iriam sentir que alguém se preocupava com eles.

E o Papa Francisco ficaria feliz a abençoar os jovens que virão de várias partes do Mundo, num palco-altar, mesmo raso ao chão, com flores portugueses ao seu redor, que custasse o preço da dignidade e do bom senso.

Jesus foi pregado numa Cruz e deu ao Mundo o exemplo do seu sofrimento. Como que criou um palco natural do tamanho do Universo para albergar a fé dos Homens.

 


CR7 NA ARÁBIA SAUDITA

Tenho lido e ouvido e, por certo, vou continuar a ler e a ouvir, as mais diversas opiniões sobre o contrato celebrado entre Cristiano Ronaldo e o AL-NASSR da Arábia Saudita, por valores inusitados e invulgares, mesmo para grandes figuras do futebol.

Os comentários andam todos à volta da “má opção” feita pelo futebolista português; da perda de visibilidade que vai ter; do facto de ignorar os graves problemas sociais e humanos da Arábia, ou colaborar neles; do volume de dinheiro que vai ganhar; de “vender a sua alma ao diabo”; de ser um mau fim de carreira para ele; e por aí fora, ao sabor do critério emocional de cada analista.

Mesmo considerando que têm todo o direito de dizer o que pensam, não posso deixar de alertar esses comentadores para a realidade de Cristiano Ronaldo que deixou de ser o menino madeirense à procura de uma vida melhor, através do futebol, para ser a marca CR7, ao chegar aos trinta e tal anos de idade.

Sendo uma marca não pensa, apenas, como um Ser Humano, nem reage como tal.

Vive num Mundo completamente à parte, de valores diferentes, construído com critérios sociais diferentes e, por vezes, até artificiais, onde o dinheiro tem um valor que não conhecemos nem entendemos e onde uma joia, vale o mesmo que um chocolate ou meia dúzia de caramelos para os mortais comuns.

Ou seja: por imperativo da vida, dos caminhos que percorreu, do seu talento para o futebol e pelo dinheiro que ganhou, Cristiano tornou-se órfão de si próprio, para passar a ser um símbolo de qualquer coisa ou mesmo a marca CR7, que não pensa como nós, não vive como nós, não age como nós, mas actua, existe e comporta-se, dentro de parâmetros completamente diferentes que são, simplesmente, os exigidos pela importância da própria marca.

E nesse caso vale quase tudo.
É verdade que se dá, nestes casos, como que uma desumanização da pessoa, para se criar um automatismo robotizado do símbolo.

Aos 38 anos de idade, multimilionário, cheio de automóveis, palácios, negócios, aviões, barcos, joias, boa roupa, mulheres que gostam dele, família que ele ampara e que ampara, sobretudo, os seus filhos, CR7 chegou a Riade para se apresentar como uma das maiores marcas, senão mesmo a maior, do futebol mundial.

Neste momento, já não é um Ser Humano igual a nós.
É outra coisa qualquer que pode jogar, não jogar, treinar, não treinar, despedir treinadores, orientar a equipa em campo, não apertar a mão a ninguém, ser mais do que um Príncipe (talvez mesmo Rei), encher o estádio com a sua figura atlética, constituir-se como Embaixador de uma candidatura mundial e rir-se um bocado com as críticas negativas que lhe fazem.

Tenho muita pena de vos dizer que o Cristiano Ronaldo já não existe como nós. Não é igual a nós.

Não é mais a criança que saiu da Madeira, a chorar pobreza, mas determinada em ser alguma coisa de invulgar neste Mundo.

E conseguiu. Por ele e pelo destino.

Agora é o CR7. É uma marca. É um símbolo. É uma história de vida, para contar aos mais pequenos, como se fazia antigamente com os contos de fada.

 


Roubar para não ter fome

Os supermercados estão a colocar alarmes nalguns produtos alimentares que são, ao que dizem, facilmente subtraídos às caixas de pagamento.
Conservas, congelados, queijos, manteiga, leite e por aí adiante, desde que facilmente manobráveis, são produtos que têm sidos desviados por gente com fome, por pessoas no limiar da pobreza, ou por mães que não têm nada para os filhos comerem e que já os mandam à Escola mais para eles comerem uma refeição quente por dia, do que para aprender as letras e as contas.

É um Portugal triste este em que vivemos.
É um lugar disfarçado de País, com ricos e pobres, portanto sem a produtiva classe média que faz avançar a economia.
É um pedaço da União Europeia sem bases de sustentação para resistir ao efeito “boomerang” das sanções impostas aos que fazem a guerra.

Os ricos “enchem–se” com os fundos europeus (está na moda), com desvios, espertezas, subtilezas, dinheiro empresta(da)do pelos bancos, negócios de exploração do próximo ou do desprevenido, compadrios familiares e empregos partidários.
A classe média vive uma pobreza envergonhada, fazendo números constantes de equilibrismo para resistir às exigências dos trinta dias do mês.
Os pobres pedem dinheiro nas ruas, acorrem às ajudas alimentares das organizações que existem para o efeito, dormem ao relento e, algumas vezes, recorrem aos supermercados para disfarçar a fome.

E nós? Os que somos apenas números? Os que não importamos?
Disfarçamos. Sofremos. Escondemos. Resistimos.

Quando eu tiver fome e roubar para comer, só consinto em ser preso se os outros que roubam de barriga cheia forem presos também.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)


Mais uma lágrima, Jorge!

Jorge Fonseca é um grande campeão português.
Homem de medalhas, de vitórias sucessivas, de bandeira nacional, de hino e de lágrimas.
Jorge Fonseca foi condecorado pelo Presidente da República pelos seus feitos desportivos na modalidade que escolheu, o judo, misto de físico e mente, de força e de arte, de raciocínio rápido e músculo, de lealdade!...
O sonho do Jorge, nascido na Amadora, num bairro pobre de gente pobre, foi sempre o de ser polícia, um agente de segurança pública capaz de evitar situações que ele próprio detectava no seu bairro.
Aos 29 anos concorreu à PSP. Finalmente estava à porta do sonho mais difícil de concretizar do que uma medalha Olímpica.
Teve 7,8 na prova de cultura geral. Foi reprovado. Nem sequer chegou às provas físicas. Chumbou.
A PSP precisa de homens cultos, mesmo que tenham comportamentos anti-patriotas, mesmo que batam indiscriminadamente, mesmo que insultem, mesmo que pratiquem actos anti-democráticos.
Têm é de ser letrados. Mesmo cultos. Talvez sábios.
O que não devem poder ser é negros, campeões Olímpicos, condecorados pelo Presidente da República, homens que choram quando o hino português é tocado por eles e para eles e a bandeira portuguesa sobe ao mastro de honra.
Não. Isso não podem. Têm de ser cultos.
O Jorge Fonseca, grande Campeão Mundial quer entrar para a PSP mas não o deixam, porque no teste de cultura geral teve 7,8 valores.
Por favor abram os olhos e tenham juízo!...
O Jorge Fonseca deve ser agente da polícia de segurança pública…por mérito!

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)


FALANDO DE MISTÉRIOS ENTRE A VIDA E A MORTE

A morte é um mistério, mas a vida também é e não se torna possível pensar numa coisa sem pensar na outra.
Antes de nascer, o que era eu?
E se eu não tivesse nascido, onde estava?
A resposta fácil tem a ver com aquilo que toda a gente sabe.
O Ser Humano acontece, forma-se, desenvolve-se através da fecundação de um espermatozoide que atinge o óvulo e forma o zigoto, a primeira célula do novo Ser.
Ponto final.
Tudo isso é belo e misterioso, mas não explica tudo, porque continua a não me dizer donde venho e o que era eu antes de ser alguma coisa.
É neste mistério que vivo e é neste mistério que morro.
Ou seja: o mistério de não saber, de não descodificar, de não explicar o essencial, leva a que eu encare a morte como parte imprescindível do processo existencial e que essa segunda parte seja tão misteriosa como a primeira.
Dir-se-à: então vale a mais a pena que não saiba, desde logo porque ninguém me consegue explicar.
Os livros Sagrados aproximam-se (ou não) e tentam uma explicação sobrenatural que se baseia na vontade de Deus, mas logo entram em contradição ao dizer que Deus selecciona as almas e umas morrem, outras não.
A omnipotência divina não deve ser medida assim, nem pode ser avaliada como se se tratasse de um julgamento.
Esse Deus que avalia, que decide, é único, criativo, bondoso, igualitário, fraterno e tem capacidades invulgares que são intraduzíveis em pensamentos e palavras comuns.
ELE está para além de tudo, logo está também para além da minha (da nossa) compreensão.
A morte é um mistério, mas não é o fim, tal como a vida é um mistério mas não é o início.
Entre uma coisa e outra há uma mancha cinzenta não explicada, ou então explicada de acordo com a nossa capacidade de entendimento e de avaliação dos mistérios.
E tudo isto está tão bem feito, tão correcto, que só podia ter sido concebido por uma inteligência superior.
Não há volta a dar e por muito de científico que eu consiga colocar nas palavras, nas razões, nas explicações, nos estudos, nas fórmulas, sobeja sempre a dúvida: donde venho e para onde vou?
Seria simples dizer: venho do nada e vou para o nada. Mas essa seria uma explicação demasiadamente fácil e redutora, perante a natureza.
Eu venho de alguma coisa e vou para a alguma coisa.
Não sou pó amassado, nem me sopraram o fôlego da vida, nem vou dormir o sono eterno, até que me acordem outra vez.
O meu processo só pode ser de transformação permanente e mesmo sem que eu saiba, Sou e volto a Ser.
Fico por aqui.
Faz bem pensar. Mas faz melhor acreditar na minha pequenez, na minha reduzida dimensão perante a grandeza infinita do que me rodeia.
A explicação pode estar aí: no infinito!
E é no infinito da vida que está, desde hoje, o meu amigo Paulo Lepetri, Professor da Universidade do Algarve e Mestre da minha alma, sempre à procura de quem goste dela.
Tenho dele (já) uma infinita saudade. Mas sei que o vou voltar a ver.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)


PERDI MAIS UMA FEIRA
NA FEIRA DA MINHA VIDA

O Presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas, anunciou a desistência de Lisboa do projecto da Feira Popular, em Carnide.

Segundo ele (e só ele) é uma desistência por falta de investidores e porque hoje em dia já não há quem procure este tipo de equipamento, como acontecia na nossa juventude (estou a falar de nós, os mais velhos), elevando – nos ao plano da escolha da diversão, da brincadeira graúda, do petisco ocasional, da fartura, do algodão doce, do carrossel, do comboio fantasma, da grande roda, do poço da morte e do jogo dos espelhos que nos fazia mais gordos ou mais magros, consoante o formato, fazendo – nos rir que é algo de muito saudável que hoje é quase proibido fazer.

Estamos em tempo de guerra, de carestia de vida, de inflação galopante, de desemprego, de greves, de fome, de desespero para conseguir sobreviver, juntamente com o nosso agregado familiar.

Mal seria que tentássemos ultrapassar, nem que fosse por uma tarde ou por uma noite, esse desespero, com uma ida à Feira Popular de Lisboa a troco de um bilhete de ingresso simbólico, ou de uma bifana e um copo de cerveja, embrulhados em luzes e cobertos pelo único som que nos protege as dívidas: o som da vida!

Para além disso havia emprego e trabalho para muita gente e havia os carrinhos de choque, talvez o circo de feira e o comboio fantasma, e uma mulher para ler a sina.
Havia restaurantes e artesanato, exposições, vendas solidárias e livros…
Também havia o lago, o comboio, a montanha russa (ou ucraniana), o passeio de charrete e a imaginação…
Ah! A imaginação!...
Mas imaginação sem investidor, não é possível, porque na actual Câmara de Lisboa não há quem imagine!
O Presidente não quer.
O Presidente nunca foi criança.
O Presidente nunca teve um balão.
O Presidente de feiras só conhece a “Ovibeja”.
O Presidente não avalia a dimensão e a importância do investimento popular, nem sabe rir de olhos arregalados para a primeira surpresa da infância das descobertas.

O Presidente já nasceu apreensivo e tantas contas fez que lhe falharam as contas da alma, porque não havia investidor para elas.

Estou triste e ofendido.
Triste, por mim, pelos meus filhos, pelos meus netos, pelas crianças da minha cidade.
Ofendido, porque me andam a esconder a verdade e me relegam para uma posição de subalternidade intelectual que não mereço, enquanto homem livre e cidadão de Lisboa.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)


JOSÉ SARAMAGO: A MEMÓRIA QUE NÃO SE PERDE

A imortalidade conquista-se pela diferença. A memória perpetua-se pelo conteúdo da vida.
José de Sousa Saramago foi um Ser Humano que lutou por si e pelos outros, através da palavra escrita, dos conteúdos corajosos, das lutas internas pela conquista da liberdade de expressão.
Por isso, pelo seu talento, pela prosa pensada e obtida no direito de ser diferente, pela coragem com que deu voz e sentido às palavras mudas, José Saramago foi distinguido em 1998 com o Prémio Nobel da Literatura, depois de ter recebido o Prémio Camões em 1995 e fez com que o menino nascido em Azinhaga do Ribatejo fosse crescendo com a profissão de serralheiro mecânico e se tornasse adulto como um dos maiores escritores de sempre em língua portuguesa.
Cem anos passam sobre o seu nascimento, em 1922, e nesta memória em que se revisita o jornalista, o poeta, o dramaturgo, o ficcionista e o romancista, caem dos sentidos, numa emoção descontrolada e sublime, títulos como: “Os poemas possíveis”, “A Noite”, “Manual de pintura e caligrafia”, “Memorial de Convento”, “ A jangada de pedra”, “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, “O ano da morte de Ricardo Reis”, ficando a paixão por Lanzarote como último recado da sua vida cheia de palavras, de mensagens, de sonhos, de premonições, de certezas e de esperança.
Disse José Saramago: “O espelho e os sonhos são coisas semelhantes. É como a imagem do homem diante de si próprio”.
E essa é a imagem de Saramago que resta para o futuro do tempo.
Por ser um fiel seguidor da prosa de Saramago e por me entender nos conceitos das suas obras, relevantes e significativas em cada época da sua criação, sinto alguma dificuldade em distinguir um livro. Mas sendo essa a proposta, não posso deixar de salientar a obra que “acordou” a crítica literária, o poder político e a opinião pública para a verdade do escritor. Refiro–me ao título “O Evangelho segundo Jesus Cristo” que me mostrou um homem diferente e sem medo, uma personalidade literária, um ser humano, na linha de continuidade daquele que descobri na redacção do jornal “A Capital”, quando nela trabalhámos juntos, sendo um incansável lutador pela liberdade.
O romance foi publicado em 1991 e excomungado pelo político Sousa Lara, quando se dizia Secretário de Estado Adjunto da Cultura, que tentou proibir a sua leitura e não o conseguindo retirou-o de uma lista de romances candidatos a um prémio europeu.
Foi o alerta para a atribuição do Prémio Nobel, em 1998, embora já ao lado de outros títulos relevantes e anunciadores da beleza da sua prosa despontuada, mas repleta de ineditismo e de mensagem, que o havia de encaminhar para a imortalidade.
Trata-se de um romance de grande criatividade, imaginativo, revelador, modernista, com uma construção literária invulgar, que deixa ao leitor a capacidade de compreender o Profeta, entendendo o escritor, ou perceber o escritor não entendendo o Profeta.
Os protagonistas da obra são o leitor e Deus, ambos no cumprimento de uma capacidade de julgamento e de premonição que atravessam o livro, através dos seus vinte e três capítulos, e se projectam no Tempo, deixando, por vezes, o Diabo à solta.
Ficará como um Evangelho apócrifo, é verdade. Mas, também, como uma demonstração de enorme talento.
Por outro lado, e embora se tente dizer o contrário, Deus sai deste livro de Saramago com uma auréola de esperança a enfeitar o futuro da humanidade.


NACIONALISMO LEVADO AO EXTREMO DA INCOMPREENSÃO

Provavelmente é redundante referir que o nacionalismo é extremista, mas no caso vertente da Rússia e da Ucrânia pode fazer sentido falar em extremos aplicados às duas partes em confronto.
Talvez por razões diferentes, mas conduzindo a fins comuns.
Os russos e os ucranianos têm origens eslavas e a Ucrânia fez parte da Rússia durante a maior parte da sua existência. De tal modo que Kiev foi capital da Rússia.
Após a desagregação da URSS, os ucranianos declararam a sua independência, mas as ligações ficaram lá, como se percebe pelo que se passa em Lugansk e Donetsk, regiões claramente viradas para a Rússia, tendo o presidente russo reconhecido a independência dessas duas regiões.
Porquê, então o ataque actual?
A resposta é: por causa do nacionalismo russo, levado a um extremo que toca o absurdo. Mas pode ser, também, por causa da aproximação da Ucrânia ao Ocidente europeu, com possível entrada para a NATO, o que serve às mil maravilhas os interesses norte-americanos de terem um país amigo às portas da inimiga Rússia.
E aqui está o grande busílis da questão.
Ou seja: a guerra acaba quando a Rússia e os EUA minimamente se entenderem a esse respeito, porque, valha a verdade, o papel da Comunidade Europeia nisto tudo é de pouca substância e significado.
Existe ainda uma questão subjacente. É que, quer se queira ou não, a Ucrânia tem dado grande alimento ao “batalhão Azov”, que é constituído por nacionalistas neo-nazis, bem conhecido pelo seu constante recrutamento além-fronteiras, como já acontecia no tempo de Stepan Bandera, que chefiava a Organização dos Nacionalistas Ucranianos, e se aliou aos nazis para combater os judeus da Ucrânia que supostamente estariam a apoiar o comunismo russo.
Diz a história que foram mortos quatro mil judeus nessa altura, porque os nacionalistas ucranianos queriam oferecer uma “prenda” a Hitler.
De todas estas referências históricas talvez se consiga retirar alguma coisa de proveitoso para a total compreensão do conflito.
Mas há algo que não é possível subestimar e tem a ver com o sofrimento de tantos homens, mulheres e crianças que em nada contribuíram para esta guerra fratricida.
Esses são os que não têm culpa, são os indefesos, são as vítimas inocentes, são os maiores prejudicados, são os que neste momento cruel percebem que não têm futuro à vista.
Ao menos, por eles, devia haver a decência de colocar um ponto final numa guerra entre povos irmãos que tem um efeito devastador.


A FESTA EM DOWNING STREET

Convenhamos que o número 10 de Downing Street, em Londres, tem muita história para contar, essencialmente por ser a residência oficial do “Prime Minister” e porque as paredes daquela casa secular ocultam muitos segredos e são fiéis depositárias de acontecimentos que, provavelmente, não deviam ter acontecido.
A fama não vem de agora. Em 1530 já havia rua e já havia casas, embora a que tinha o número 10 fosse partilhada com outras três habitações, todas resultantes da construção idealizada por George Downing.
A partir de 1732, as três casas deram lugar a uma casa só que passou a ser a residência e escritório do Lord do Tesouro, ao mesmo tempo considerado Primeiro Ministro.
Chamavam – lhe a “casa dos fundos” e actualmente podem, até, vir a chamar – lhe mais qualquer coisa, depois de o ex – jornalista Boris Johsson ter tomado conta do poder, desafiando o poder da União Europeia, e deixando história escrita no seu país pelos piores motivos ou, pelo menos, os não desejáveis pela maioria britânica escondida ou distraída.
Esta célebre casa de Westmisnter - que dá para St. James Park – sofreu um abalo político quando o desgrenhado Boris promoveu uma festa em “sua” casa, no mês de Maio de 2020, durante o rigoroso confinamento a que obrigara os pares do reino e os cidadãos comuns, através de uma fiscalização rigorosa e dura e no meio de centenas de mortes provocadas pelo “covid”.
Pois, nos jardins de Downing Street houve uma festa (sabe – se lá porquê) e os convidados até levaram bebidas porque a sede, em Londres, é sempre muita.
Boris esteve presente porque “pensava que era um evento de trabalho” e, talvez por isso, até se apresentou com uma fatiota ligeira que mais parecia um fato de treino!
Desde aí, os Trabalhistas nunca mais lhe deram descanso, apoiados na razão política e social que tinham, e agora, no Parlamento obrigaram Boris a retratar – se.
O Primeiro Ministro pediu desculpa e apresentou razões esfarrapadas para o seu consentimento e para a sua presença.
Ficou mal na explicação dada que ainda foi pior do que se tivesse ficado calado e abriu uma brecha profunda no seu “reinado”.
Aquela cabelo loiro, artisticamente despenteado, já não disfarça nada; já não significa “saudável loucura”; já não traduz um “homem desalinhado”; já não serve de desculpa nem de retrato.
Boris foi incompetente. Mais uma vez.
Por isso, o líder do Partido Trabalhista, Sir Keir Starmer, lhe disse o seguinte em pleno Parlamento: “(…)Será o povo a expulsá – lo; será o seu Partido a expulsá – lo: ou será o senhor a demitir – se. Não tem outra solução (…)”
E Boris é capaz de não ter mesmo outra solução.


A HISTÓRIA DOS VELHOS SEM HISTÓRIA

Agora já não presta. Passou o prazo de validade. As rugas são valas abertas pelas dores da vida e pelo sofrimento obrigado, para que outros fossem felizes.
A pele ficou engelhada, como se fosse papel inútil que nem para embrulho serve. Podia ser pergaminho, porque ao menos teria a ver com história. E podia o amarelecido pelo tempo ser cor de vida, honra e felicidade de quem foi capaz de a viver com a dignidade da génese. Mas não. O corpo passa a ter a forma de fardo pesado e inútil, espécie de embrulho de pesadelos para os que se obrigam a cumprir os mínimos que a sociedade impõe.
E os fardos abandonam-se.
Os lares são, por isso, depósitos de almas envelhecidas e de corpos tisnados por mágoas e ventos e tempestades do coração.
E são, também, um arquivo consentido de “gente que já não presta” e, muitas vezes, são os familiares mais chegados a aliviar o estorvo.
Porquê?
Porque para além da falta de respeito se convencionou que apenas se pode ser útil à sociedade até determinada idade (pouco depois dos sessenta anos) quando a esperança de vida aumentou significativamente e cada vez há mais gente idosa válida, capaz, inteligente e sabedora que é deitada fora, qual desperdício de vida.
De longe, de terras do Oriente e da sabedoria de África vem o sinal correcto, transformado em luz de alerta para a humanidade. Os velhos são os sábios, os respeitados, os conselheiros, os experientes. Os que devem ser sempre ouvidos para o desfazer das dúvidas e para a orientação proveniente do conhecimento e da longevidade.
Estamos a chegar a uma quadra convencional de fraternidade e respeito. É uma época de reflexão, altamente recomendada por determinadas orientações religiosas. E mesmo levando em conta a ambiguidade dos festejos, vale a pena aproveitar o ensejo para alertar as boas almas para esta incoerência da vida que é o menosprezo dos sábios e o refutar da capacidade humanística dos mais sabedores.
E os velhos morrem. E os velhos não importam. E os velhos são fardos. E os velhos são pesadelos. E os velhos são marginalizados.
E tu que és filho e que devias ter a honestidade genética e sensorial de respeitar o teu pai és o primeiro a ajudá-lo a subir a montanha e a dar-lhe, como última mortalha para enrolar o corpo gélido, uma manta que descobriste por acaso no fundo da arca das recordações.
Talvez não tivesses percebido, mas na hora do derradeiro adeus, o teu pai ainda soube entregar-te nas mãos a última lição da sua vida. Rasgou a manta ao meio, embrulhou- se em metade e deu-te a outra metade dizendo: – “Toma, meu filho! Fica com ela até ao dia em que o teu filho te fizer o mesmo e subir contigo a montanha do adeus eterno. Pode ser que ele se esqueça de levar a manta para te cobrires e, se assim acontecer, terás esta para aguardares a hora da tua morte sem sofreres o frio do abandono”.
Mesmo pegando numa história da História, o que sobra é algo que se deve definir como respeito e como acto de solidariedade e de amor.
Quando as pessoas entenderem o significado de ser Velho e medirem o tempo pelo respeito que a idade merece e significa teremos uma sociedade mais justa, mais perfeita, mais adulta e onde os afectos crescem como flores.


DO LADO DE CÁ É O LIMITE DA NATUREZA

O Padre Vítor Feytor Pinto deixou–nos fisicamente e foi sentar–se ao lado de Deus, como sempre desejou.
No entanto, ficou connosco em espírito, mostrando, através da sua alma pura, tantas obras que são o seu legado, para que possamos meditar no valor da vida, na importância da ética, no que representa lutarmos, em conjunto, por um Mundo melhor.
Andamos juntos pela nossa juventude em Coimbra, na Figueira da Foz, em Buarcos, em Alvaiázere (com o Vaz de Morais) e mais tarde por muito Mundo, ele cumprindo os seus desígnios de sacerdote e eu atravessando as conquistas radiofónicas que me deslumbravam.
Diria que vivíamos ambos os nossos sonhos de infância e nos realizávamos nas nossas vocações, mas os corações batiam em conjunto pela importância e pela responsabilidade de darmos significado à vida.
O Vitor dizia muitas vezes que: a MORTE É APENAS UMA PORTA.
DO LADO DE CÁ É O LIMITE DA NATUREZA.
DO LADO DE LÁ É A TERNURA DE DEUS.
O Padre Feytor Pinto andou pela Ermida dos Três Reis, no Campo Grande, durante vinte anos, a espalhar a sua palavra amiga que, mais tarde, reuniu num livro chamado “A Palavra Vivida”.
Para mim não foi só a palavra vivida. Foi também a palavra da descoberta, da revelação, do amor, da verdade, do espírito, que sorvi avidamente e guardei dentro de mim.
Quando o Padre Vitor deu o seu impulso criativo ao movimento “Por um Mundo Melhor” ou foi Alto Comissário para o “Projecto Vida” ninguém se admirou. Era ele no seu esplendor espiritual, sempre à procura de novas portas para a vida, de novas entradas para a eternidade, onde agora se encontra.
Foi Capelão do Papa Bento XVI, não como reconhecimento pelo seu trabalho fraterno e construtivo, mas sim como aproveitamento das suas qualidades humanas.
E era isso, apenas isso, que tinha significado para ele. Lutar por um Mundo melhor e mais justo, com menos desigualdades sociais, onde coubessem a Verdade e o Amor e onde dessemos as mãos compreendendo como era importante vivermos unidos, trabalhando para o mesmo fim de aperfeiçoarmos o Templo Divino que existe dentro de cada um de nós.
A porta abriu – se para ele. Já está do outro lado da vida, onde tudo tem mais significado.
Acredito que esteja feliz, ao pé de Deus, como sempre desejou.

FERNANDO CORREIA, 06/10/2021


UM ESTADO POLICIAL?

Acredito no bom senso das pessoas e acredito, sobretudo, que algumas vezes somos levados a fazer “coisas” com as quais não concordamos.

No entanto, há ocasiões em que o cidadão comum, investido em ocasionais funções profissionais que deviam ser respeitadas, é conduzido à prática de irregularidades morais, das quais se vem a arrepender, mais cedo ou mais tarde, ou quando perde o estatuto que o conduziu a tal prática.

Este “desabafo” tem a ver com uma “moda” recente de certos órgãos de informação (principalmente de televisão) que resolvem andar pelas estradas de Portugal atrás dos carros dos ministros a medir-hes a velocidade. Ou seja: para difundirem uma notícia sensacionalista de prática de uma falta grave em condução automóvel, cometem uma idêntica, sem que pelo facto lhes aconteça alguma coisa.

Mais: um carro do Estado a circular em excesso de velocidade, com membro, ou membros, do Governo no seu interior, responde por si mesmo à falta e assume-a perante a circunstância. Se não provocou qualquer acidente, nem pôs em perigo a condução de terceiros, a velocidade fica, apenas, como registo de uma ocorrência de condução igual a tantas outras que diariamente se nos deparam, incluindo as praticadas por alguns carros da Comunicação Social, como se prova.

Portanto, estamos perante uma falsa moralidade!

Outra falsidade moral: circula (ou circulou) nas redes sociais uma foto tirada a um eurodeputado português, fora da sua hora de trabalho no Parlamento, caminhando inseguro por uma rua de Bruxelas, supostamente regressando a casa a pé, após um jantar com amigos.

Qual é o problema?

Qual é a questão?

É proibido comer? É proibido beber? É proibido confraternizar com amigos ou familiares? É proibido andar a pé?

Tenham paciência e, também, decoro e dediquem-se a outros assuntos e a outras questões que há muitas para resolver, a bem da sociedade, do progresso, do rigor e do bem estar geral.

FERNANDO CORREIA


O QUE É JOE BERARDO?

Sabe-se quem é Joe Berardo. Conhece-se o seu historial, desde a Madeira à África do Sul, passando por enriquecimento à custa de negócios inventados e conseguidos, pelas obras de arte, pelos esquemas bancários, pelas garantias que, afinal, não são e pelo montante da dívida anunciada de mil milhões de euros à banca.

Portanto, o povo português sabe, perfeitamente quem é Berardo, o tal que foi detido recentemente; que prestou (ou não) declarações, como já tinha feito à Comissão de Inquérito da Assembleia da República; que terá de pagar uma caução de cinco milhões de euros para não ficar em prisão preventiva até ao julgamento; que montou um esquema fraudulento com várias empresas pelo meio, algumas delas (ou muitas) empresas ocasionais, sem movimento, para conseguir os empréstimos bancários; que deu obras de arte como garantia desses empréstimos de grande vulto, para depois esvaziar a sua validade através de novo esquema ambíguo; que é um sujeito de más falas e de soberba acima do normal; que diz viver apenas com uma pensão de reforma de cerca de dois mil e quinhentos euros; e que, obviamente, lesou o País, lesou o Povo, lesou as Instituições e obteve mais valias artificiais em proveito próprio.

Este senhor está indiciado de oito crimes de burla!.
Sabe-se, então, perfeitamente a história de Joe Berardo, o falso moralista madeirense.
Falta definir o que é este indivíduo, aparentemente sem escrúpulos, e sem se preocupar com a vida dos outros.
Retirar da banca dinheiro que não é dele, atingindo o astronómico montante de mil milhões de euros, seria uma verdadeira obra de arte, se tudo fosse feito com base na honestidade e na transparência.
Mas, de acordo com o que se sabe, não foi!
Então, o que é Joe Berardo em português de lei?...
Cada um que tire as conclusões que entender. 

FERNANDO CORREIA


À BEIRA DA INSENSATEZ

Confesso que fiquei desconfiado com a atitude da Uefa ao conceder a Portugal e à cidade do Porto a organização da final da Liga dos Campeões entre duas equipas inglesas.

No entanto, e como acredito nas boas intenções e nas boas soluções, entendi que a responsabilidade organizativa, cometida aos portugueses, se devia à forma como o governo português estava a lidar com o “covid – 19”.

A primeira desconfiança surgiu quando percebi que havia autorização para o jogo ter público nas bancadas, o que conflituava, desde logo, com o facto de os jogos entre portugueses se terem disputado (sempre) à porta fechada.

Mesmo assim fui capaz de me convencer que não podia ser doutra maneira, para que os ingleses deixassem cá algum dinheirinho.

Na verdade, a final canalizou para a região do Porto um vastíssimo número de adeptos que gastaram, de facto, muitos milhares de euros, o que foi muito bom para a economia local. Só que, a par dos adeptos convictos, também lá chegou um elevado número de arruaceiros que fizeram questão, aliás habitual neles, de espalhar confusão e, provavelmente, vírus, insensatez, destruição, má educação, álcool, desrespeito e despropósito.

Remediada a questão como foi possível surgiu a seguir o impensável: o governo britânico retirou Portugal da lista verde, só porque sim, mandando os seus cidadãos regressar às ilhas de imediato, para não terem de cumprir quarentena.

Foi a debandada. Foi o caos. Foi ridículo. Foi insensato. Foi aberrante. Foi absolutamente injustificado.

Esta atitude de má política e de mau relacionamento entre povos de aliança ancestral, não foi explicada, a não ser através de um titubeante argumento de doze casos de uma suposta variante, detectados em Portugal, o que obviamente não colhe quando comparado com o resultado da “invasão” britânica pelo futebol. Ou seja: abre – se para o jogo, porque convém e, a seguir, fecha – se ao turismo comum e regrado, porque os países da Comunidade Europeia não são precisos para nada.

Gostava de não ter de perceber aquilo que estou a perceber! 

FERNANDO CORREIA


AS PRAXES QUE NÃO SÃO PRAXES

Voltou ao primeiro plano das notícias e das preocupações gerais o caso do Meco, onde morreram vários estudantes, supostamente no desenvolvimento de uma praxe académica de todo desajustada e perfeitamente evitável.

O julgamento decorre e tem contornos de grande complexidade de decisão, ou seja, de atribuição de culpa, tendo em vista a forma do sucedido e como foi sucedido, embora tenha surgido um novo testemunho que aponta para o facto de os praxados terem pedras amarradas aos pés, o que violenta a praxe e a coloca num plano de todo indesejável.

Não posso, nem devo, percorrer um caminho que apenas diz respeito ao Tribunal.

O que posso e devo é insurgir-me contra determinadas praxes que não têm razão de ser e que apenas são actos de violência gratuita, claramente condenados pelas entidades responsáveis pelo ensino, pelos encarregados de educação, pelos familiares e pelos próprios praxados.

Acredito e percebo que a praxe configura um acto académico a recordar pela vida fora, tal como a queima das fitas e a imposição do grelo. Mas não acredito na bondade académica de quem praxa e na suposta inocência colocada na elaboração do acto e é contra isso que me insurjo, me revolto e protesto.

Imagino a dor dos pais que perderam os filhos na praia do Meco, no meio de uma suposta acção académica que apenas pretendia “marcar” uma etapa da vida universitária. E imagino que eles estarão nesta altura a pensar que aquela acção, tal como foi feita, não servia para nada, ou em contraposição servia para colocar em perigo a vida dos filhos.

Ora, isto não faz sentido, não tem razão de ser, não é lógico, não é humano, não tem nada a ver com uma academia saudável. Por isso, entendo que estas situações devem ter um limite de bom senso e de costumes aceitáveis que deixem os praxados felizes e possam recordar os dias da iniciação de uma forma perfeitamente sorridente e positiva.

FERNANDO CORREIA


Uma conversa com dois centímetros

Passei algum tempo da minha vida a falar de futebol, tentando explicar o inexplicável, ou seja, que apesar de não ser uma Escola de virtudes, o futebol profissional tinha os seus méritos; que os adeptos mereciam todo o respeito pela sua dedicação à causa; que os dirigentes exageravam nas suas opiniões, tantas vezes doentias e unipessoais; que os árbitros erravam demais transmitindo, algumas vezes, para as bancadas a ideia de uma condenável falta de isenção nos julgamentos; que eram ofensivos e pornográficos determinados ordenados pagos a jogadores e a treinadores; que as verbas envolvidas em transferências, desde os absurdos pagamentos às comissões atribuídas a empresários eram atentatórias da dignidade humana; que haver três jornais desportivos diários representava um atestado de incultura passado ao povo; que as televisões e as rádios vendiam futebol como quem vende água, só que a sede não era a mesma; que tudo o que é exagerado não presta.

Continuo a pensar que tudo o que é exagerado não presta, mas praticamente já não falo de futebol.

Abro uma excepção para saudar a introdução do papel do vídeo-árbitro na modalidade, pela clarificação que pode dar ao público em geral, relativamente a determinadas jogadas, faltas, foras de jogo, irregularidades, golos que são e outros que não são, etc.

Só que, recentemente, Portugal ganhou à Sérvia, mas o golo da vitória não contou, porque a equipa de arbitragem em campo não viu a bola passar, por completo, a linha de baliza e não havia vídeo–árbitro.

Não havia porquê? Não viram porquê?

Ninguém deu uma explicação razoável sobre estas duas dúvidas que ficaram assim mesmo, ou seja, metidas no saco do esquecimento, ignorando a FIFA, a UEFA e mais quem seja, que Portugal pode não ser apurado para a fase seguinte da prova apesar de ter marcado um golo legal, que é a finalidade e o objectivo do futebol.

Por outro lado, soube que, há dias, o vídeo–árbitro invalidou um golo porque o jogador que o marcou estava dois centímetros fora de jogo.

Espantoso!

Dois centímetros.

Imaginem a precisão que é preciso ter para garantir uma coisa destas. Porquê? Porque o operador que está a manusear a aparelhagem que conduz a esta realidade, ele próprio, não tem capacidade para garantir se aquele “frame” é o correcto para a visualização do lance, tal como ele sucedeu, ou se é uma “frame” mais à frente ou mais atrás. E basta esta dúvida para dar cabo da realidade virtual dos dois centímetros.

Um conselho aos senhores que pensam futebol: o homem erra, a máquina também. Então no caso deste disparate de uma posição irregular por escassos centímetros estabeleçam uma margem de erro. Sugiro que até aos cinco centímetros não anulem um golo, porque senão o vídeo–árbitro só serve para introduzir mais dúvidas no futebol. 


O DIA DA MULHER

As Nações Unidas promoveram, em 1975, o Ano Internacional da Mulher e, em 1977, proclamaram o dia 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher.

Porquê?...

Porque se percebeu que, em todo o Mundo, a mulher continuava a ser vítima de uma discriminação indiferenciada, sempre com o sentido e a finalidade de ser subjugada pelo homem.

Podemos dizer que é verdadeiramente espantoso que esta subalternidade, verificada em vários sectores da vida de todos os dias, obrigue a que celebremos as nossa mães, as nossas irmãs, as nossa filhas, as nossas amigas, as nossas companheiras, uma vez por ano, sem cuidarmos de saber e aprofundar a razão de ser desta subalternidade, desta angústia, deste drama social que leva à violência doméstica, às diferenças salariais relativamente aos homens, à escassez de cargos públicos reservados às mulheres (uma espécie de dádiva), ao trabalho caseiro, às limpezas, às perseguições sexuais, ao acompanhamento dos filhos (como se eles não tivessem pais) e aos trabalhos inferiores que são reservados para elas, ainda de Sol a Sol, ainda exploradas, ainda como reserva de favores ao “macho”, ainda como Seres comandados e orientados.

Isto é absolutamente inacreditável, mas verdadeiro e, por isso, regredimos no tempo até 1857 nos EUA; a 1911 no mesmo país; ou a 1917 na Rússia, para concedermos à mulher o direito à emancipação e à igualdade, tão exploradas eram naquele tempo, tão exploradas são agora. Em vários países, a diferença de tratamento e de oportunidades entre o homem e a mulher continuam a ser notórias e angustiantes.

Neste dia 8 de Março de 2021 aqui estamos, de sorriso nos lábios e flores na mão, a dizermos às mulheres portuguesas que lhes pedimos desculpa pela atitude doentia de todos os outros dias do ano.

Basta!

É hora de acordar.

E, se não cansar muito, de pensar nos valores humanos, na igualdade social, no equilíbrio genético, na importância das mulheres e dos homens na comunidade da paz, do bom senso, da consciência e da construção.

Fazemos parte da mesma vida, do mesmo espaço, do mesmo mundo, respiramos o mesmo ar, sofremos as mesmas dores.

Sejamos suficientemente honestos e capazes de contribuir para a inversão desta situação.

Se não houver razão mais poderosa (e há) que o façamos pelas nossas Mães.

Os beijos, as flores, a paz, a consideração, o carinho, o amor, tudo isto é para nos darmos mutuamente (homens e mulheres) durante todos os dias do ano. 

FERNANDO CORREIA
(Jornalista)


PARA ANA GOMES JÁ CHEGA

Ana Gomes, figura proeminente na política portuguesa e mulher de antes quebrar que torcer, talvez padeira de Aljubarrota, talvez Maria da Fonte, mas certamente Ana Gomes para a história de Portugal, pediu a ilegalização do partido “Chega”, tornado evidência por André Ventura, por entender que fere a Constituição e vai contra a democracia conquistada em 1974 pelo Movimento das Forças Armadas.

O pedido de ilegalização é endereçado ao Tribunal Constitucional e ao Ministério Público (via Procuradoria Geral da República) e dado a conhecer a todas as organizações a que Portugal pertence, começando pela União Europeia, baseado em quarenta aspectos formais da existência e do procedimento do próprio “Chega”.

Esta é uma questão séria que não pode ser apreciada com um sorriso de desdém nos lábios ou com um leviano encolher de ombros.

E é sério, porque a democracia portuguesa também se obriga a ser séria.

Ou seja: se este partido tem uma forma de proceder ilegal; se defende uma política que vai contra a Constituição da República Portuguesa; se actua usando processos não democráticos; se tem nas suas fileiras conhecidos extremistas de direita; se se deixou infiltrar por elementos nazis; se é segregador e racista, é óbvio que, à luz da Constituição, não pode existir em Portugal.

Se não é nada disto e apenas tem votos porque o seu líder é benfiquista, então não se vê razão para que acabe, a não ser em consequência dos maus resultados que o seu clube tem feito no futebol.

Voltando à seriedade do texto: como português respeitador da Constituição, exijo ser esclarecido, de uma vez por todas, se posso ou não admitir o “Chega” como partido político integrante do quadro democrático nacional, surgindo nas listas eleitorais ao lado de todos os outros partidos que reconheço como respeitadores da Constituição da República.

Apenas isto. Porque também não gosto de ser enganado. 

FERNANDO CORREIA

 


Meu querido “irmão” Carlos do Carmo

Afinal juntaste a tua saída dos palcos à tua saída da vida terrena! Não foi nada que eu não esperasse, porque te conheço bem e sei que és um homem determinado. Sempre foste, desde os tempos do “Faia”, da mãe Lucília, da Cila, do Becas e do Gil, até ao “João Sebastião Bar” onde afogávamos as dores de crescimento da democracia bebé em copos de bom vinho tinto, a acompanhar um prato de “camarões à baiana” feitos pela Eulália sob as ordens da amiga Vera.

Nessa altura andávamos a gatinhar à procura de um caminho saudável para as politiquices que discutíamos, uns mais esquerda, outros mais ao centro, com evidente repudio das “direitas” que alguns saudosistas do estado novo ainda defendiam, com mais unhas do que dentes.

Eram dias e dias, noites e noites, tu, eu, o Tordo, o Ary, o Solnado, o Bastos, o Cardoso Pires, o Orlando Costa, o Vitorino de Almeida, o Nicholson, o José Viana, o Henrique, e todos aqueles que iam lá para vos ver e para vos ouvir.

Às vezes nem saíamos de lá e juntávamos a noite ao dia em conversas saudáveis sobre o tempo novo que era o nosso.

Depois, ias cantar ao estrangeiro, naquelas salas cheias de saudade, dos portugueses trabalhadores que tinham saído da pátria desiludidos e que queriam voltar para participarem na nova vida portuguesa. Mas quando voltavas, lá estávamos todos à tua espera para mais uma boa conversa e para ouvir as boas notícias que trazias na bagagem.

Até que um dia fomos todos ao Rio de Janeiro e a São Paulo levar fado e poesia aos portugueses. E que êxito!... Eras tu a cantar, o Ary a dizer poesia e eu a apresentar os espectáculos.

Não é possível esquecer.

Como não é possível esquecer o programa “No calor da noite”, na Rádio Comercial, onde tu cantaste e contaste, em episódios semanais, a história do fado, cujas bobinas gravadas guardo no meu armário de vida, representando um dos meus grandes tesouros.

Como não é possível ignorar as tuas apresentações no “Olympia”, em Paris, onde Aznavour e Piaff  também aplaudiram o teu sucesso.

Recordo a tua generosidade, a tua ternura pelas minhas três filhas, as brincadeiras de criança com os teus três filhos, na Malveira, no “Burrico”, onde também cantaste.

E hoje a notícia, a primeira do ano de 2021.

Partiste para o Oriente desconhecido, onde te espera uma nova luz e a certeza derradeira da vida eterna.

Fico a olhar para ti.

Recordo Braga, o “Teatro – Circo”, onde iniciaste a tua última ronda de canções. Estivemos juntos no hotel. Jantamos juntos. A Maria Judite estava presente. Sempre presente.

Dia 1 de Janeiro.

Os jornais falam de ti, meu irmão.

Na Segunda–Feira é dia de luto nacional. Bem mereces que te lembrem. O professor Marcelo dedicou–te palavras bonitas e o António Costa, o filho do Orlando, falou no amigo que perdeu.

Não perdeu. Tu apenas foste preparar o teu próximo concerto fadista. No meio dos anjos. 

 


NÓS SOMOS TEMPO

“Nós somos tempo!” – Eduardo Lourenço dizia isto no tempo em que tinha tempo de ser tempo.

Mas, agora que o mundo o transformou em história e em saudade, o que fica dele é a memória. A memória grandiosa de quem dedicou a sua vida a pensar, provando que do Ser Humano o que resta é o pensamento, quando ele nos atinge transformado em inesgotável lição.

Eduardo Lourenço era um pensador, dos poucos que Portugal teve, na sucessão de Fernando Pessoa e de Agostinho da Silva. E tal como estes, mesmo morrendo não nos deixou, porque teve espaço de vida suficiente para nos legar as ideias escritas.

E mesmo não sendo os portugueses um povo que prime pela afirmação colectiva, não podemos deixar de pensar ao lado do Mestre que: “Nós somos tempo. Compreender aquilo que somos é compreender o tempo que nós somos, aquilo que o tempo exterior, o tempo da história, o tempo da sociedade, é em nós. Não se faz essa aprendizagem sem que ela seja uma metamorfose permanente daquilo que nós somos.”

Saibamos entender o alcance deste pensamento e o que ele encerra de crítica, de verdade e de futuro aconselhado a gente boa que se desculpa permanentemente com a falta de tempo e que faz dessa ideia, transformada em dogma, um modo de vida.

Pensar Portugal continua a ser preciso. Procurar a razão de ser do tão proclamado “Quinto Império” é a explicação que mais se deseja. Perceber a índole sebastiânica de gente marcada pela instante procura de si mesma e pelo reencontro com o Mundo é algo que se impõe como tarefa transformadora de um desígnio de sofrimento e dor.

É uma tarefa enorme. Mas é nossa.

Termino recordando palavras do Cardeal José Tolentino de Mendonça: “O caixão de Eduardo Lourenço tem, qualquer que seja a sua forma, a forma de Portugal.” 


CHEGA OU É DEMAIS

Não gosto muito da via política para me debruçar sobre o que está mal e podia estar bem, nem sobre o que estando bem podia estar melhor.

Também não sei se os Partidos Políticos resolvem todos os problemas das pessoas e se contribuem, sem equívocos nem bandeiras artificiais, para que os cidadãos tenham uma vida melhor.

O que sei é que os seus membros são, de uma forma geral, demagogos e que todos afinam pelo mesmo diapasão, ou seja, se não estás do meu lado é porque estás contra mim!

E, a verdade é que muitas vezes não é assim e uma diferença de opinião pode não querer dizer que estejamos em polos opostos.

Reconhecendo o direito à liberdade de opinião e ao voto, não entendi muito bem a argumentação de alguns Partidos que votaram contra o Orçamento de Estado na generalidade. E não entendi por debilidade argumentativa; porque determinada esquerda especulativa votou ao lado de uma direita conservadora e oposicionista por tradição; e porque não se tinha discutido, ainda o orçamento na especialidade que é a discussão que, na verdade, interessa.

Ou seja: o voto contra é um voto às escuras, é um voto cego, é um voto “porque sim”.

E, sendo assim, não é sério.

Também li uma entrevista do único Deputado do “Chega” na AR, em que, por entre muitas afirmações de enorme gratuitidade e de sentido claramente agitador, afirma ser contra algumas posições assumidas pelo Papa Francisco, porque as considera anti – cristãs e, com jeitinho, anti – clericais.

Não sei se por apoiar o casamento civil entre homossexuais; não sei se por condenar a pedofilia de uma maneira geral e, nomeadamente, na Igreja Católica; não sei se por estar contra as desigualdades sociais; não sei se por ser contra as guerras; não sei se por admitir o casamento dos sacerdotes em determinadas condições; não sei se por ser contra a ostentação, o luxo e a riqueza na Igreja; não sei se por dar mais força ao espírito do que à religião, sem negar a importância da oração.

Não sei.

O que sei é que para mim já é demais!


VÊM Aí OS FUNDOS EUROPEUS

As comemorações do “5 de Outubro” foram, obviamente, mais simbólicas do que vividas ao pormenor, não só pelos efeitos das possíveis celebrações em grupo e suas consequências, mas também porque vários protagonistas dessas celebrações ainda viviam, com alguma apreensão viral, os efeitos do último Conselho de Estado onde participou António Lobo Xavier, já infectado com o “covid-19”.

Mas, apesar da contensão e da apreensão, o Presidente da República voltou a ser bem claro no seu discurso comemorativo da data, tendo a inteligência e a capacidade política de o orientar para aquilo que, na verdade, parece ser neste momento mais importante. Ou seja, o interesse colectivo dos portugueses e a necessidade de uma convergência no essencial das forças políticas.

No primeiro caso, a leitura interpretativa vai no sentido de ser fundamental, numa altura em que estão a chegar os fundos europeus, manter o interesse colectivo acima dos interesses individuais, que o mesmo é dizer muita atenção porque o dinheiro que aí vem não é só para alguns. Por outro lado, também há uma leitura política orientada para a necessidade de haver cedências para que a convergência seja viável no essencial e o Orçamento de Estado permita uma governação séria e cuidada.

Mas a leitura pode ir ainda mais longe baseada no pressuposto que deve imperar uma ética republicana contra a corrupção. No fundo são duas faces da mesma moeda que só pode chamar-se “Euro da transparência e da integridade”.

Sabe-se que palavras e actos percorrem distâncias diferentes, mas bom seria que, de uma vez por todas, se pensasse nos País e não numa dúzia de portugueses privilegiados, os tais que são sempre os “protegidos” e “beneficiados” nestas ocasiões.

Fundos passados já demonstraram onde está o problema, permitindo uma distribuição muito pouco equitativa.

Chegou a hora de se mostrar ao Mundo a tal transparência e a tal integridade, para que possamos dizer que, em Portugal, nos encontramos todos a trabalhar para o mesmo fim, pensando na sociedade global, nos problemas da comunidade e nas crescentes zonas de pobreza.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Autor)


AS OBJEÇÕES DE CONSCIÊNCIA

A frequência obrigatória das aulas da disciplina de “Educação para a Cidadania” está a ser posta em causa por alguns sectores políticos e católicos da sociedade portuguesa, não se sabe se por alguma razão plausível, se por mera conveniência de contexto.

Tenta-se, por essa razão, que os alunos não sejam obrigados a frequentar as aulas e a obter na disciplina uma classificação positiva, argumentando-se com a figura da objeção de consciência que, aparentemente não encontra no caso vertente qualquer campo aceitável de análise e de aceitação.

Porquê? Porque não se encontra na sua fundamentação nenhum conteúdo ideológico que esteja aquém ou para além da Constituição da República Portuguesa e porque defender que seja uma disciplina opcional permite um aprofundamento das muitas desigualdades, infelizmente, já existentes na nossa sociedade.

Não vejo que faça mal, que seja contraproducente, que ancilose os sentidos, não tratar da matéria ambiental, da defesa do consumidor, das finanças, das necessidades culturais, da segurança, da defesa, da paz, da igualdade de género, dos direitos humanos, do voluntariado ou da saúde.

Sinceramente não vejo que alguma destas matérias possa motivar objeção de consciência, a não ser por comodismo dos alunos que não estão para perder tempo, ainda por cima apoiados por alguns pais, com uma disciplina obrigatória como esta, “inventada” pela sociedade atual.

Fico preocupado com os objetores, por temer que eles estejam, de facto, a seguir um condenável caminho político, absolutamente contrário à Constituição Portuguesa, aprovada em acto democrático pela Assembleia da República.

Só por essa razão dou visibilidade a esta matéria.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Autor)


CONFESSO QUE NÃO PERCEBO

Afinal queremos, ou não, turistas estrangeiros em Portugal e, nomeadamente, no Algarve?
O turismo é incompatível com a luta, em Portugal, contra a “covid-19”?
Queremos os turistas e, depois, não os deixamos sair dos hotéis?
Tenho dúvidas quanto aos procedimentos.

Portugal precisa da indústria turística e reclama (com razão) da decisão de Boris em excluir o nosso país dos destinos seguros.

Recentemente chegaram ao Algarve 2.400 jovens holandeses. Olha que bom! Mas atenção: vão um bocadinho à praia, mantendo as regras do distanciamento, bebem água ao jantar e, a seguir, toca a ir para a caminha.

Está-se mesmo a ver!...

Por isso não escondo as minhas dúvidas e quero partilhá-las para me sentir útil à comunidade.

As regras internas estão estabelecidas e as fronteiras estão abertas. A livre circulação de pessoas voltou a ser (quase) um facto.

Precisamos urgentemente de relançar a economia e necessitamos de turistas como de pão para a boca.

Os hotéis, restaurantes, bares e discotecas têm de funcionar.

A própria Inglaterra reabriu os “Pubs”.

Bom. E nós? Mandamos patrulhas da GNR para as ruas da Oura e corremos com a malta toda, por causa dos ajuntamentos.

Acabou.

E não há um pouco de flexibilidade racional?

Claro que os turistas vão procurar outros destinos. Claro que a Espanha rejubila. Claro que a Grécia bate palmas. A Itália põe colchas à janela e a França abre o Louvre e o Moulin Rouge com a mesma vontade de cativar a rapaziada que vem da estranja, seja lá como for.

Pensemos, então, com alguma clareza.

Bem-vindos os turistas. Que tragam dinheiro e o gastem cá. Que bebam umas cervejas. Que comam marisco. Que cumpram as regras possíveis para evitar contágios. Que riam. Que cantem. Quer se sintam bem. Que passeiem. Que visitem. Que vejam. Que fiquem. Que voltem.

Isto não é uma “balda”. De facto, não é. Mas sejamos coerentes e pensemos que se não fizermos o mesmo que os outros países, vamos certamente ficar sozinhos a “chorar baba e ranho de todo o tamanho”, sem dinheiro, sem turismo, com mais desemprego, com mais dívida pública, com a hotelaria fechada e… com “covid”.

Isto só vai lá quando a doença conhecida como “covid-19” deixar de ser avaliada como uma pandemia e passar a ser tratada como uma endemia.

Mais uma, entre muitas que andam por aí à solta, e que matam todos os dias.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Autor)


OS VÂNDALOS DA HISTÓRIA

Andou o Padre António Vieira pelo Brasil a pregar aos peixes, defendendo os índios e lutando contra a escravatura, para ser vandalizado por quem não sabe “História” e transforma as palavras de pedra em arma insultuosa de arremesso.

Andou o Padre António Vieira a pregar, por D. João IV e pelo reino português, contra a inquisição e não lhe bastou ser preso como agora insultado na sua morada esfíngica.

Andou o Padre António Vieira a consumir a alma pela justiça dos homens, pondo em causa a justiça de Deus, para lhe agradecerem com as cores do demónio pintadas no rosto.

Andou o Padre António Vieira a lutar contra os comerciantes de carne humana pelo imenso Brasil, para ser agora escorraçado e pela calada da noite afastado das páginas de gratidão e reconhecimento da história universal.

Andou o Padre António Vieira a semear a sua palavra, em sermões de fé e esperança, para nos dias de hoje, ditos de civilização avançada, fazerem chover granizo para evitar uma boa colheita.

Ando eu, como Santo António, de menino ao colo, à espera que este povo, abençoado pelo quinto império de Pessoa, olhe para dentro de si e resgate do passado quem merece.

A verdade, por vezes, transforma – se em mentira. A mentira repetida transforma – se em verdade para quem a deseja. A história escrita, contada e perpetuada em memórias de pedra e bronze, jamais pode ser apagada, mesmo que não se goste dela.

E o Padre António Vieira merecia que se soubesse da sua luta interior contra as almas penadas do comércio fácil da carne humana, essas sim, a valerem a revolta dos que nobremente lutam pela igualdade, pela fraternidade e pelo amor entre os povos.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Autor)


A “NAMORADINHA DO BRASIL” NÃO TEM NAMORADO

Regina Duarte deixou de namorar o Brasil mas, ao que parece, isso não lhe custa nada. Pelo menos percebe–se que foi o Brasil a acabar com o namoro, provavelmente por já estar farto dela, o que nem se deve censurar. Os namoros são assim e servem para isto mesmo. Ou seja, tudo começa por aquilo quer se pode definir como compreensão mútua, por entendimento mútuo, por se achar que não há ninguém igual, mas depois, a pouco e pouco, verifica–se que há pormenores que não são ultrapassáveis, que afinal a beleza não é tudo, que o corpinho apetitoso não esconde os defeitos da alma e que as palavras são tão feias que nem uns lábios carnudos as disfarçam.

Não se sabe se Regina Duarte ainda gosta do Brasil, mas percebe-se que o Brasil já não gosta de Regina Duarte. Pelo menos, muito do que se vê e do que se ouve aponta nesse sentido, correndo até “abaixo–assinados” contra o facto de Regina continuar a ser Secretária da Cultura, o que ultrapassa de longe o facto de ser uma simples namorada do País.

E porquê?

Exactamente por não ter feito fosse o que fosse pela cultura brasileira, que tem um belíssimo historial de poetas, escritores, músicos, actores, compositores, pintores, pensadores e por aí fora. E tem, também, um historial pouco recomendável de falta de apoio a todas as pessoas que poderiam contribuir para a subida do nível cultural do país e para o projectar no desejável universo da arte e da sabedoria mundiais.

Regina foi uma esperança. Mas não passou disso. Regina tinha um passado artístico que podia dar garantias de apoio e compreensão das necessidades culturais. Mas não passou disso. Regina foi uma boa actriz. Mas não passou disso.

Actualmente, o papel que representa é de um absurdo e inconveniente cariz político e, os brasileiros assim o dizem, muitíssimo mal representado. Já não passa disso.

E para aqueles que olham o mundo global com olhos de ver e percebem o que nele se passa com coração de sentir, estes casos de ascensão ao poder (sempre efémero e enganador) são reveladores de algo que está disfarçado, ou escondido, na alma de determinadas pessoas, personagens de si mesmas no palco da vida, ainda que durante algum tempo estejam sentadas na plateia do dia a dia a baterem palmas aos outros. Claro que são aplausos de inveja, palmas de conveniência, sorrisos forçados de mentira para compor a falsidade da peça que estão a representar.

E há quem se lembre daquela “Malu Mulher” – que por pouco escapou à feroz censura da ditadura brasileira – protagonizada por Regina Duarte, nessa altura apenas para espectador ver, uma grande defensora dos direitos humanos, dos direitos do seu povo, essencialmente dos direitos das mulheres.

O tempo é outro e, agora, nem o “senhôzinho Malta” lhe pode valer, porque até ele deixou de estar enamorado pela “viúva porcina”!

FERNANDO CORREIA


UM AVISO SÉRIO

Estamos a assistir a uma espécie de revolta da natureza contra todos aqueles que tanto mal lhe têm feito.
Essa revolta surgiu através da propagação de um vírus, um pequeno elemento proteico, proveniente de animais selvagens vendidos num mercado público da China e que infectou o Ser Humano, de forma violenta, pela sua facilidade de propagação (daí a pandemia) embora de efeitos individuais pouco violentos.
Ou seja: a pandemia é perigosa por esse facto, por ser mundial, e por atingir pessoas de débil sistema imunitário ou com doenças respiratórias agudas.
Quando se diz que é uma revolta da natureza é preciso entender que se trata de uma figura de retórica, mas de significado abrangente, que obriga a pensamentos de uma outra ordem, talvez mais visíveis nos planos mental, astral, universal e metafísico, percebendo – se que o Homem resolveu, por sua própria iniciativa, adulterar a forma e o conteúdo da matéria a seu belo prazer, entrando em conflito directo com o planeta, com a sua formação original, o seu conteúdo, a sua génese e a sua fórmula de vida.
As guerras, os químicos, o aquecimento global, a poluição desenfreada, as constantes experiências atómicas, as armas nucleares, etc. não podem continuar a existir, não é viável, o planeta não suporta.
As transformações sucessivas operadas na Terra são um aviso muito sério, mas até agora ignorado.
Por isso se usa a linguagem simbólica da revolta da natureza.
Para perceber isto basta pensar que, após uns dias (no máximo um ou dois meses, conforme os países e a proliferação pandémica) já há peixes nos canais de Veneza que estavam fortemente poluídos; já se respira em cidades onde a atmosfera era irrespirável; os níveis de dióxido de carbono na atmosfera baixaram consideravelmente;  o aquecimento global, provocado pelo efeito estufa no planeta, desce progressivamente para níveis aceitáveis; a chuva regressa aos valores normais; as temperaturas voltam, a pouco e pouco, a definir as estações do ano; os animais começam a ter condições naturais de sobrevivência; e o Ser Humano obriga – se a alterar os seus hábitos de vida.
Este será o aspecto fundamental da pandemia denominada “covid 19”: nada será como dantes!
O Ser Humano vai alterar a sua forma de viver e o dinheiro, se continuar a existir, terá um outro valor qualquer, provavelmente muito mais racional e lógico.
O egoísmo também baixará significativamente, porque é o único caminho para o entendimento da egrégora da vida.
A noção de fraternidade terá de ser, necessariamente, ampliada, para que o Homem veja, de uma vez por todas, que não pode viver sozinho, sem se preocupar com os outros que lhe estão próximos.
A família voltará a ter um papel definitivo na construção da sociedade.
A vida no campo, incluindo o justo e correcto aproveitamento das terras, deve passar a ser uma constante, porque a desertificação do interior transmitiu, como se sabe, uma falsa imagem de desenvolvimento individual e colectivo.
Os políticos, apologistas de acções ditatoriais ou autocráticas, estão no fim do seu caminho e jamais poderão voltar a usar a ignorância do povo em seu proveito.
A tarefa das nações será prioritariamente a de educar, instruir e formar a sua gente.
O caminho para uma sociedade global está à vista.
Os Templos devem abrir portas aos fiéis desde que sejam, eles próprios, fiéis ao ideário que os criou.
Os valores humanos têm de estar acima dos interesses pessoais.
A religião está dentro de cada individuo e desde que se proceda de acordo com os ensinamentos da criação, os guias espirituais terão o caminho aplanado.
Se Deus (seja ele qual for e o que for) se deve traduzir no Universo Criador da Humanidade, então, a humanidade terá de dar abrigo, dentro de si, ao Deus que a criou.
O aproveitamento dos recursos de cada País é sempre uma dádiva da natureza e terá de ser equitativo.
A lista é imensa e a sua grandeza depende de cada um de nós e daquilo que quisermos para o futuro da humanidade.
Mas estamos na hora certa.
Não é possível esperar mais.
A natureza avisou.
Basta cumprir.

FERNANDO CORREIA


TODA A CAUSA TEM O SEU EFEITO

A notícia é amarga e surge logo a seguir ao apregoado e proclamado mês da fraternidade: Dezembro!
E a notícia é esta: cresce o número de portugueses endividados, ao mesmo tempo que duplica o número dos que não têm abrigo ou tendo abrigo não têm dinheiro para comer, nem para remédios, nem para sustentar os filhos, muito menos para os educar, nem para comprar roupa, nem para a electricidade, nem para os transportes, nem para sorrir!...
A maré enche e vaza com a força dos fluxos e refluxos da natureza e se do Natal ficou a história cristã, também ficou a aridez de um bolso vazio ou de uma vida penhorada. O Ser Humano é assim e, por vezes, gasta o que tem e o que não tem, apoiado num enganador cartão de crédito que só serve a quem o emite; outras vezes gasta – se a si mesmo, a reivindicar os direitos que não lhe dão e quando procura trabalho para “sair da rua”, as portas fecham – se -lhe na cara, com as mais variadas e invulgares justificações.
É por isso que o Estado Social se deveria envergonhar do que faz na maioria das suas acções, deixando como herança histórica o facto de cada vez haver mais gente rica e, como consequência, mais pessoas na miséria ou no limiar da miséria.
Não pensarmos no que isto quer dizer é iludirmos o significado da nossa própria existência e ignorarmos a razão de ser da humanidade, tal como foi concebida e criada.
Ou seja: o cidadão abastado (que não divide o que tem) e se serve dos outros para conseguir, para si, mais riqueza, é um simples Ser abastardado que tem uma visão distorcida da realidade, não sendo capaz de perceber a importância do esforço colectivo, nem de avaliar a grandeza de uma existência repartida e, certamente, mais de acordo com o significado da vida terrestre, da vida material. E, por essa via de procedimento, jamais encontrará o caminho do espírito, jamais será iluminado pela grandeza da dádiva, pela importância da partilha, pela nobreza do caracter que, afinal, não tem e pela alegria de estender a sua mão a quem dela precisa.
Alguns justificam – se dizendo que foi o acaso que lhes deu o dinheiro, o poderio, a voz de comando, a supremacia…
Falácia. Justificação que nada justifica. Sombra da realidade.
Para esses recomenda – se vivamente a consulta do “Caibalion”, se tiverem a coragem de o ler e de o entender, ou mesmo só de o ouvir. Se o fizerem encontrarão a “voz” de uma consciência diferente: TODA A CAUSA TEM O SEU EFEITO; TODO O EFEITO TEM A SUA CAUSA; TODAS AS COISAS ACONTECEM DE ACORDO COM A LEI SUPERIOR; O ACASO É SIMPLESMENTE O NOME DADO A UMA LEI NÃO ENTENDIDA E NÃO CUMPRIDA.
É preciso, então, perceber e tomar boa nota do que estas palavras significam, porque, de facto, toda a causa tem o seu efeito.
Quando os Seres Humanos menos avisados entenderem o que isto quer dizer, poderá ser demasiadamente tarde.


A Galinha dos Ovos de Ouro

Portugal e Lisboa continuam a ser destinos preferidos internacionalmente, o que contribui largamente para que a economia, a nível do Estado, “sorria” feliz. Alguns senhorios, infelizmente, mas porque a lei o permite, desataram a despedir inquilinos e a promover o turismo local que é uma espécie de galinha dos ovos de ouro, mas que só pode ser “comida” por alguns. Ou seja: cria-se a galinha, ela põe os ovos de ouro e, depois, quando se esgotam os ovos, ainda dá para fazer uma cabidela, servida à mesa dos tais privilegiados, mas cozinhada com o sangue dos que ficam sem casa.

A história repete-se. Nunca se sabe donde vem a riqueza, mas normalmente é sempre feita à custa da pobreza dos outros.

Para além desta dura realidade a que ninguém consegue pôr cobro (por enquanto), o abuso turístico é uma constante e se não houver uma vigilância constante e atenta, a especulação sobe de tom e aqueles que nos visitam, porque o destino é bom e atractivo, começam a perceber que alguma coisa vai mal e que, por vezes, os custos são exagerados.

É importante perceber o que se está a passar e exercer uma vigilância atenta e um controlo total das situações para que este magnífico destino turístico não feche as suas portas, por culpa dos que querem enriquecer a qualquer custo.

Também se torna importante recordar alguns exemplos anteriores ocorridos com outros destinos portugueses, onde a especulação deu cabo das belezas turísticas, transferindo os visitantes para Espanha, onde lhes deram (e dão) condições mais vantajosas. É, por isso, o momento de travar o que está errado, de incentivar o que está bem e não ter contemplações com os do costume que não olham a meios para atingir os seus objectivos imediatos.

Portugal é um destino turístico de eleição. São múltiplas as belezas e o povo é carinhoso, tranquilo e fraterno. Com toda a naturalidade, abre as portas de casa aos visitantes e partilha o que tem sem querer nada em troca. Pois bem. Que este exemplo seja seguido pelos grandes proprietários, hoteleiros e comerciantes e que juntos, defendam e tratem bem a nossa “galinha dos ovos de ouro”.