Carlos Afonso

Não há Pachorra

Carlos Afonso

BEBO, LOGO EXISTO

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  •         04/06/2022

Hoje de manhã, na minha obrigatória ida à Adega Amável, o João, enquanto enchia um copo de vinho, lá começou a cantarolar o "seu refrão" do "Tudo isto é Fado": "Copos erguidos/Aos bons enchidos/Com pão caseiro/Junto ao Balcão/Está o João/ O dia inteiro/ Há vinho bom/ E até Moetchandon/Muito agradável/ Tudo isto existe/ Só aqui há disto/Isto é o Amável"! E rematou com uma das suas habituais frases publicitárias aos seus produtos: "Um copo de supertinto pela manhã é o melhor talismã"! Soltei um "In vino veritas" e brindei com ele. A frase latina (há quem defenda a sua origem grega), deu título a um ensaio de Kierkegaard, sobre os discursos do amor no Banquete de Platão. Sugeri então ao taberneiro que renovasse o seu stock dos típicos aforismos sobre o vinho que decoram as paredes da sua taberna (e de todas) com frases da sua autoria (e são muitas) e, porque não, ao lado de citações filosóficas sobre o "néctar dos deuses". Foi assim que na internet descobri o livro "I Drink, therefore I Am" com o sub título de "A Philosopher Guide to Wine". De facto se a verdade se encontra no vinho, que melhor instrumento de trabalho para quem a procura? Quem sabe se a "Tese, Antítese e Síntese" da Dialéctica Hegeliana não foi inspirada a copos de Rosé, a síntese de brancos e tintos? Porém, embora sem ter nada de relevo sobre o assunto, Hegel dá o seu nome a um vinho tinto frutado alemão, da região de Weiseberg. Curioso é saber-se que Hegel encomendava de vez em quando umas garrafas de Pontac. Ora M. Pontac era o proprietário do Chateau Haut-Brion, onde o inglês John Locke escreveu uma das suas obras. Sabendo das divergências entre os "empiricistas" ingleses e os seus "especulativos" colegas europeus continentais, podemos dizer que pelo menos o vinho os aproximava. Kant apreciava o espumante, em especial um das Canárias. De acordo com um seu biógrafo, gostava tanto que algumas vezes não dava com o caminho de regresso a casa. Devia ter seguido conselho do seu colega Aristóteles, que aconselhava comer repolho para evitar a bebedeira. Talvez fosse a receita do Treme, Treme, em cuja parede da sua antiga taberna, em Faro, estava escrito "Depois de muito beber/Quando à noite daqui saio/ Treme, treme, posso tremer/Mas cair é que não caio!". Como não tenho a certeza nem me interessa muito saber se os filósofos actuais passam mais tempo bêbados do que a pensar, termino com um silogismo de São Tomás de Aquino: "Todo o pecado tem um correspondente contrário...assim como a timidez se opões ao atrevimento... Mas nenhum pecado se opõe à bebedeira. Logo, a bebedeira não é pecado"! (in Summa Theologica) SAÚDE!


A (DES)PROPÓSITO DA ÚLTIMA CEIA

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  •         14/04/2022

A Última Ceia, no dia anterior em que Cristo foi crucificado, é seguramente a refeição mais famosa da história. Mas outras houve que merecem destaque.

Entre elas está o Banquete de Platão. Quando um grupo de amigos se reúne numa de comes e bebes, é certo e sabido que a conversa tem de meter "gajas"! Quando num grupo de compinchas há tipos com o gabarito de Aristófanes, Sócrates ou Platão, a conversa não resvala para historietas, badalhocas ou apenas brejeiras, sobre a quantidade de "febras" que cada um já "comeu". Não é pois de estranhar que no Banquete de Platão se tenham antes digerido elevados conceitos filosóficos, de onde se destacou o do "amor platónico". Hoje, a meio caminho entre o "petisco" de pingunços e o Banquete de poetas e filósofos do sec V a.c., estarão os jantares de alguns grupos de reflexão e promoção dos direitos sexuais.

É famoso também um jantar romântico de Cleópatra com Marco António, onde a rainha egípcia apostou com o general romano que era capaz de organizar um jantar de 10 milhões de sestércios, o que na moeda actual seriam qualquer coisa como 15 milhões de euros! Acho que o jantar não foi nada do outro mundo, mas a surpresa viria com a sobremesa: Cleópatra sacou de uma das duas pérolas gigantes do seu colar e introduziu-a num copo com vinagre, que ingeriu após a pérola se dissolver na totalidade. Sabendo que cada uma das preciosidades valiam 5 milhões de sestércios, Marco António, com o espírito prático próprio dos romanos, impediu a que a sua amada engolisse o segundo cachucho e deu-se como vencido.
Actualmente já não há Marcos Antónios, e com frequência assiste-se a darem "pérolas a porcos"...

Também há relatos históricos de arrepiantes refeições macabras, como as propostas satíricas de Jonathan Swift para combater a fome na Irlanda no sec XVIII. Provavelmente o autor das Viagens de Gulliver inspirou-se na mitologia grega, mais concretamente na história de Tereo. Este rei da Trácia era casado com Procne, de quem tinha um filho. Predador sexual, como hoje se diria, violou a sua cunhada Filomena, após o que lhe cortou a língua para que ela não o pudesse denunciar, mas acabou por ser descoberto. E as duas irmãs congeminaram uma vingança que foi lhe servirem o filho num cozinhado de uma ceia.
O que não faria hoje o CM por uma história deste calibre!

Todos conhecem a história do Rei Midas. O tal que transformava em ouro tudo em que tocava. Um dom que lhe fora oferecido por Dionísio mas que tornou a vida do homem num inferno. Não conseguiu mais cear (nem sequer lavar as mãos)! Segundo Aristóteles morreu à fome.

Hoje há muitos candidatos a Midas, mas cá no burgo aquele que se aproxima mais é o Jorge Mendes. Jogador de futebol a que jogue a mão é vendido a peso de ouro.

Finalmente uma história actual, embora de ficção e contada em filme. "Le Diner de Cons", traduzido "O Jantar de Estúpidos" (con pode ser também entendido como "sacana", "merdoso", "cretino", "parvalhão" etc.)

Trata-se um filme francês de culto, onde de um grupo de amigos organiza semanalmente um jantar e cada um leva consigo um estúpido. Naquele dia o anfitrião apresentou-se com um idiota que ele considerava de categoria internacional: o senhor François Pignon, um funcionário das Finanças cujo hobby era construir miniaturas com paus de fósforos.Acontece que o estúpido acabou por revelar-se um mestre na arte de desencadear catástrofes.

Cá por mim não deixo de pensar em Putin como o personagem central. De fósforo(s), pelo que dizem, ele gosta para fazer bombas. Os convivas... cada um que escolha. Candidatos não faltam, entre amigos e inimigos!


O Doutor da Mula Ruça e a Mala Chanel da Senhora Russa

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  •         03/04/2022

Segundo a agência France Information, uma senhora russa comprou uma mala numa loja da Chanel no Dubai e foi obrigada a assinar uma declaração de que a mala não viajaria para a Rússia. Parece que se trata de uma decisão da empresa francesa de artigos de moda, enquadrada na política de sanções a propósito da invasão da Ucrânia. Tenho tanta pena da mala como da senhora, um dos poucos sentimentos que o Sr. Putin deve partilhar comigo.
Não tenho pena nenhuma mas estou contra, pois a Madame Coco Chanel também estaria, se ainda andasse por aí. Afinal de contas ela gostava dos russos: albergou o exilado e pobre Igor Stravinski e a sua família sob o mesmo tecto... e, ao mesmo tempo, abrigou o Igor sob os mesmos lençóis. Ainda por cima, quando o romance acabou atirou-se de cabeça a outro russo, o Grao Duque Dmitri Pavlovich Romanov. Se fosse viva de certeza já teria andado enrolada com algum russo. Não digo com o Putin mas com o Lavrov era de caras, pois este é muito mais viajado.

Agora a história da mula ruça. Havia em Évora, no séc.XVI, um médico que teria estudado numa Universidade espanhola. Era conhecido naquela cidade por "o físico da mula ruça" por se deslocar num animal com aquela característica cromática. Chateado por duvidarem das suas habilitações, decidiu pedir o seu reconhecimento ao Rei. D. João III acabou por conceder-lhe equivalência, por alvará régio em 1534. Terá sido aqui o início das "barracadas" das equivalências, que chegou aos nossos dias? Eu diria que sim, pois a expressão "Doutor da Mula Ruça" evoluiu e agora serve para designar "pessoa de pouco valor" que se dá ares de saber mais que os outros sobre os mais variados os assuntos.
Perguntar-me-ão: o que é que o "doutor da Mula Ruça" tem a ver com a "Senhora Russa da Mala"?
Nada! A não ser que a mala não pode viajar para a Rússia com a senhora e há por aí uns quantos "doutores da mula russa" que deviam fazer a mala e viajar para lá!


"De Tróia à Ucrânia, só mudou a forma da técnica de arrasar cidades e destruir vidas"

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  •         23/03/2022

Li há dias esta frase de um jornalista e escritor espanhol, além do mais um especialista em história da Antiguidade. Há um outro aspecto das guerras que ele aborda e que se mantém ao longo dos tempos e que diariamente vemos em imagens televisivas. Vemos mulheres fortes e decididas, com os seus filhos ao colo ou pela mão, com a missão estóica de os pôr a salvo. E vemos pais, maridos, e filhos mais velhos a despedirem-se delas e a ficarem para lutar. A cumprir uma obrigação, voluntária ou imposta, de defender cidades, bens e vidas. De morrer até, enquanto velhos, mulheres e crianças tentam pôr-se a salvo. É uma lei da história das guerras. É verdade que há mulheres combatentes, e sempre houve (Joana d'Arc e a farense Brites de Almeida, há 6 séculos combatiam ao lado dos homens). Mas a esmagadora maioria dos que combatem são homens. Lado a lado, há bons e maus, honrados e canalhas, decentes e miseráveis. Vão ser corajosos ou cobardes, vão ter actos de solidariedade mas também sujos e atrozes. Podem até ser capazes de uma coisa e outra num mesmo dia. Une-os a protecção das suas famílias e da sua comunidade.
Aos que criticam os ucranianos por não se renderem ao exército invasor, não os desprezem nestes dias..


Jogos de Guerra

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  •         18/03/2022

No dia em que os presidentes Americano e Chinês debatem a guerra na Ucrânia, confrontam-se simultaneamente duas visões estratégicas do mundo. Uma, saída da guerra fria, dum mundo unipolar e outra emergente, de "esferas de influência". É aquilo que os chineses dizem ser o conflito do secXXI e em cuja vitória acreditam. Para os chineses, a acção de Putin não será mais que uma "escaramuça" no quadro do conflito global entre as duas superpotências actuais. Porém, esta "escaramuça" já arrasou cidades ucranianas e provocou milhares de mortes e milhões de refugiados, sem ainda sabermos quem sairá vencedor. Para uns China e Rússia criarão um eixo de autocracias, para outros o isolamento internacional da Rússia travará os objectivos da China.
Estou mais de acordo com os que (num debate promovido pelo Economist), que não pensam uma coisa nem outra.
Sintetizando as suas opiniões, a China explora a situação actual nos seus próprios interesses, no sentido de acelerar do que ela entende ser o declínio americano. O seu foco sempre foi o de estabelecer uma alternativa à "ordem liberal" do Ocidente. Um mundo desenhado em "esferas de influência", onde a China "governaria" a Ásia Oriental e o seu aliado russo teria uma espécie de veto sobre a segurança europeia. Aos Estados Unidos caberia o seu regresso a casa e ao continente americano. Esta "ordem alternativa" não leva em conta a democracia ocidental nem os direitos humanos, que são vistos, quer por Xi Jinping quer por Putin, como um estratagema do Ocidente para subverter os seus países. Por este motivo o líder chinês gostaria que a invasão russa revelasse a fraqueza ocidental. E se as sanções sobre o sistema financeiro da Rússia e a sua indústria tecnológica falharem, a China passará a recear menos estas "armas económicas".
Se Putin sair derrotado, não deixará de constituir um desaire para a imagem de Xi, que prepara o seu terceiro mandato à frente do PC Chinês (aliás, contrário a normas recentes). Por tudo isto, o apoio chinês aos russos tem os seus próprios limites: desde logo o facto do mercado russo ser pequeno face aos dos países ocidentais e os bancos e as grandes empresas chinesas não querem arriscar perder alguns deles, se ignorarem possíveis sanções. Para a China, também uma Rússia fraca será mais flexível a dar acesso aos seus portos do Norte e a fornecer gás e petróleo baratos, bem como facilitará o controle da Ásia Central. Parece assim que o Presidente chinês acredita que Putin não precisa de uma vitória esmagadora: desde que sobreviva politicamente, a China sai em vantagem deste conflito.
Um conflito cujo arrastamento favorece os objectivos chineses, pois pode provocar desunião a ocidente, dado o seu custo para os eleitores da Europa ser elevado: energia muito cara, aumento das despesas militares e acolhimento de milhões refugiados.
Ao Ocidente resta-lhe manter a união, reforçando os seus mecanismos democráticos.
Importante será, segundo estes analistas, que os Estados Unidos e a Europa entendam ( e explorem) as diferenças entre a China e a Rússia. São dois países que há 30 anos tinham economias semelhantes e hoje a da China é dez vezes superior. Além disso, a China prosperou durante estas últimas décadas de domínio ocidental enquanto a Rússia esteve na base de muita da sua instabilidade. Sem falar que Xi Jinping é diferente de Putin, cuja influência tem sido sempre exercida pelas ameaças e força militar.
Nunca Biden e a Europa devem ignorar que a China, pelos seus laços económicos, é um pilar da estabilidade do mundo.


CONHECEM AQUELA DO ANÃO?

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  •         09/02/2022

Não, não devo contar, pelo menos sem antes confirmar junto de alguém que represente pessoas que sofrem de um transtorno "que se caracteriza pela deficiência no crescimento, resultando numa pessoa com baixa estatura, se comparada com a média da população de mesma idade e sexo" Pelo menos assim é o que entendem os responsáveis da Disney, questionados acerca da nova versão do filme animado "A Branca de Neve e os 7 Anões". Para evitar reforçar estereótipos do filme original, um porta-voz da Disney afirmou: "vamos adotar uma abordagem diferente com esses sete personagens, e estamos consultando membros da comunidade com nanismo", afirmou um porta-voz da Disney depois de Peter Dinklage, actor anão que participou na Guerra dos Tronos e Cyrano, ter criticado a nova versão da história e dito : "Você é progressista (...), mas ainda está fazendo uma história atrasada sobre sete anões que vivem juntos em uma caverna?"
Não saberá o Peter Dinklage que a estória é um conto da tradição oral alemã, publicada no séc. XIX pelos Irmãos Grimm? Que os "anões" da estória são seres mitológicos de aparência humana, geralmente apresentados como mineiros e artesãos do metal? Que não têm o mínimo de comparação com a apresentação de pessoas como aberrações de circo, como se fazia com anões, gigantes ou mulheres barbudas?
Depois de o "politicamente correcto" desejar pôr fora de circulaç ão algumas obras clássicas, com acusações (algumas lunáticas) de colonialismo, racismo, homofobia..., é a vez de os Irmãos Grimm e a literatura infantil serem visitados por este novo e global impulso censório.
Será que a Disney também irá consultar pessoas que sofrem de hipercifose e disfarçar a "marreca" ao "O Corcunda de Nôtre Dame"?
Ainda vá que não vá preocuparem-se com o susto que a Dona Chica apanha com o berro do gato quando lhe atiram o pau.
Só que o gato não morreu.
E as pazadas na cultura... podem ser enterrá-la!!


CUBRAM-SE... OU A LITURGIA DO CHAPÉU!

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  •          29/11/2021

O Ómicron, o jogo do Benfica com a B Sad ou o embate Rio/Rangel são os últimos temas que têm vindo a ser debatidos nas redes sociais, como habitualmente quase sempre de cabeça quente.

Ora se, do ponto de vista mental, manter cabeça fria leva vantagem sobre ficar de cabeça quente, com o Inverno a chegar e os recentes dias frios, no que respeita ao conforto físico, o contrário disso é uma evidência. Por isso os complementos para a cabeça já passaram para a frente do meu roupeiro, entre eles alguns chapéus. Caídos em desuso a partir dos anos 60 (ao que dizem, pelo crescente uso do automóvel nas deslocações), o uso de chapéu tem vindo a aumentar. Não sendo um utilizador muito frequente, sou um consumidor razoável. Tudo começou há já alguns anos, com um Stetson azul escuro, modelo Fedora (linha Indiana Jones), que "gamei" ao meu irmão. A partir daí comecei a comprar regularmente, mais do que o necessário para o uso que lhes dou.

De feltro ou palhinha, isto de usar chapéu tem no entanto mais que se lhe diga, para além da sua utilidade. Chapéus há muitos, como dizia Vasco Santana na Canção de Lisboa, mas a linha que separa o seu uso correcto e o ridículo é muito ténue. É necessário escolher de acordo com aspectos físicos e a vestimenta de quem os usa. Diz o escritor e jornalista espanhol António Perez Reverte, grande amante de chapéus, que uma criatura baixinha nunca deve usar um Fedora (abas com mais de 6 cm). Também um indivíduo de feições bem roliças jamais deve colocar no topo da cabeça um Porkpie (copa baixa e aba curta voltada para cima, muito usado por músicos e outros artistas). No verão, os preferidos de Reverte são os panamás Montecristi para campo e praia, com aba nunca superior a 6 cm e, para a cidade, os Borsalino, com copa alta e aba de 5,5 cm (já agora, os Borsalino assentam lindamente nas mulheres, com o cabelo apanhado).

Ainda sobre o modelo Panamá, uns cunhados meus que viajaram pelo o Equador, esclareceram-me que é este o país de origem desse chapéu de palha (e um dos produtos que mais exporta), cuja popularidade mundial foi conseguida muito pelas fotografias de Theodore Roosevelt, que o usou durante a visita às obras do Canal do Panamá em 1906.
Voltando ao tema, diz também o autor espanhol que muito importante é saber onde e como usar o chapéu. Um detalhe importante: o chapéu nunca deve parecer novo a estrear, mas sim com um ligeiro uso. Relembrando uma tirada do deputado republicano Brito Camacho, um chapéu de palha muito usado pode ser perigoso, não vá despertar o apetite a muitos políticos!

E atenção, cuidado ao escolher a medida pois com o uso os chapéus têm tendência a encolher.

Há ainda regras de utilização. Por exemplo, tirá-lo sempre debaixo de tecto e em lugares de respeito, seja lá o que isto quer dizer. Claro que se exceptuam locais como aeroportos, estações, recintos desportivos ou centros comerciais. Tirá-lo ainda para cumprimentar uma senhora, um amigo de estimação ou pessoa de idade avançada. Também num pedido de desculpas ou num agradecimento se devem descobrir as cabeças. Já para saudar um conhecido deve tocar-se na aba com o indicador e o polegar.

Atenção, tão importante como levá-lo na cabeça é saber quando o tirar e o que fazer com ele. Quando se tira o chapéu, este deve manter-se suspenso pela aba e não pela copa. E para ser considerado uma especialista na matéria, mais esta: num restaurante ou bar, não havendo lugar onde pousar o chapéu, coloque-o debaixo do assento, de copa para baixo (se o chão estiver limpo, está visto)!

A foto usada é da Chapelaria Casa Azevedo Rua, em Lisboa, a cobrir cabeças desde 1886! É de se lhe tirar o chapéu!!!

Nota: Agora voltemos aos temas ditos "sérios" e evitem andar por aí a apanhar bonés ou, pior, a enfiar barretes!


GOD SAVE THE QUEEN

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  •          26/03/2021

Confesso que já nem ligo aos comentários do Pedro Simas sobre a Covid, nem às reuniões do Infarmed, nem às polémicas sobre a EDP ou a TAP. Entusiasmo-me com a bronca armada pela Megan, depois da entrevista dada num programa americano de televisão, tipo o do Goucha. Dá-me pena ver a pobre da rainha, toda arreliada. Não lhe bastavam os joanetes... Até a senhora que lhe vai arranjar os pés todas as quartas-feiras confidenciou ao The Sun (o CM de lá) que "Fortunately, the scandal caught the Queen barefoot" (trad. "Vá lá que o escândalo apanhou Rainha descalça". Mesmo assim custou-lhe imenso, adiantou Mrs Nail Cutter.

Para já custou-lhe uma data de jóias que tinha emprestado à Megan, entre elas uma dúzia de chapéus que usou em Ascott, no intervalo das duas Grandes Guerras. E agora, coitada, queixa-se que é uma chatice, porque aquilo a bem dizer não era dela, pertence à Coroa e agora é uma carga de trabalhos para dar baixa no inventário. A Megan, por sua vez, queixa-se que iam dando com ela em maluca, porque esteve fechada no Palácio, de onde só saiu duas vezes em 4 meses e mesmo assim de corrida, pois esconderam-lhe as chaves, o passaporte e a carta de condução. Eu cá não acredito. Para que é que ela precisava de ter as chaves do Palácio se há lá empregados só para puxar os ferrolhos e abrir aquelas grandes portas? Nunca se viu a rainha a jogar a mão à mala e andar à procura dum molho de chaves! Já a carta de condução, acredito que a tenham escondido. Então a menina queria pegar no carrinho e lá vai ela? Não sabe que ali se conduz do lado esquerdo e que é perigoso para quem não está habituado? Já a outra foi de Inglaterra para a França, onde se conduzia pela direita, e foi a tragédia que foi.

Também disse que o sogro e o cunhado são racistas e que a cunhada a fez chorar no casamento por causa de um problema com os vestidos das floristas. Isso já não sei. Sei é que caiu mal no sogro, aquele senhor parecido ao presidente do Benfica (o Orelhas) quando está de costas, casado com a única mulher da Commonwealth que fica melhor quando usa máscara. O Carlos, dizia eu, por causa disto tudo já foi falar com uns advogados e cortou a mesada ao filho. Eles que se governem com a herança da coitadinha da mãe que lhes deixou qualquer coisinha, como umas dezenas de milhões de dólares, disse. E eu digo, a Megan que devolva é as jóias e fique com os chapéus (também já devem estar encardidos dos anos que têm e com tempo que faz em Inglaterra). Ou que ponha tudo a leilão para fins de solidariedade. Safadinha como parece ser, já estou a vê-la a anunciar, como fez o Presidente duma Sociedade Recreativa duma aldeia do Alentejo, quando leiloava uma jarra oferecida pela filha do senhor Presidente da Junta:
"Tenho aqui esta pulseira de ouro branco e diamantes. Foi oferecida pela minha sogra, a Rainha de Inglaterra! Quanto vale a puta?"


OS FURAS

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  •          4/03/2021

Quando se iniciaram os planos nacionais de vacinação, perante os atrasos verificados no fornecimento de vacinas, na generalidade dos países assistiu-se ao oportunismo de alguns chico-espertos que, numa atitude "salve-se quem puder", ignoraram os direitos dos grupos prioritários para conseguirem uma vacina para si.

A nível de países, também a lentidão na estratégia de vacinação europeia, aprovada pelos países da União, já conheceu os primeiros "furas". A Hungria (quem mais podia ser?) foi quem provocou o primeiro rombo no plano de Bruxelas, ao decidir telefonar ao Presidente chinês para adquirir vacinas daquele país. Pouco tempo depois Dinamarca, Áustria, Polónia, República Checa e Eslováquia seguiram o senhor Orbán e procuraram vacinas fora do quadro da União. A Eslováquia então, num dia o seu Presidente afirmava que, para um país pequeno e com poucos recursos como o seu, era fundamental aderir aos planos da União Europeia, e poucos dias depois fazia uma encomenda de vacinas Sputnik. A Hungria até se deu ao luxo de dispensar vacinas a que tinha direito, adquiridas através de Bruxelas.

De repente, desvaneceu o entusiasmo gerado pela decisão comunitária de aquisição de vacinas para todos os europeus e a sua distribuição equitativa, eliminando a evidente vantagem que as maiores potências europeias teriam se cada país negociasse a compra de vacinas isoladamente. E aquilo que parecia ser um primeiro momento de verdadeira solidariedade Europeia deu lugar a manifestações de egoísmo nacional.

Quando começarem as negociações para a distribuição dos dinheiros da "bazuca" iremos ver como se comportam os "furas"...

Provavelmente, ao contrário do que fizeram em relação às vacinas, vão seguir o lema do Sporting "Onde vai um, vão todos" 

Illustration: Chen Xia/Global Times


PALAVRAS DOCES: O AMOR EM TEMPO DE COVID

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  •          16/12/2020

Face às barreiras levantadas às manifestações libidinosas impostas pelo distanciamento físico, o Courier International desta semana aborda como tema central o tema do amor durante a pandemia, através de boas histórias publicadas na imprensa estrangeira.
Paralelamente às histórias, e como distanciamento físico não significa afastamento social, a revista publica algumas curiosidades sobre declarações de amor, em diversas latitudes.
Embora ainda faltem dois meses para dia de S. Valentim, ficam aqui algumas ideias para mensagens de amor encriptadas, muito úteis para relações clandestinas.

Mnham, mnham...
E se de repente lhe oferecessem um pratinho de iscas (com ou sem elas) em vez de flores e xi-corações?
O coração está associado invariavelmente ao amor. Mas o amor no Irão está alojado... no fígado! Em farsi, língua maioritariamente falada no Irão, chama-se à cara-metade "jeegaram" (meu fígado). E para declarar o amor a alguém diz-se "jeegaret bokhoran", que se traduz literalmente por "Eu como-te o fígado"!!!!

Há horas felizes
"520 1314"! Se receberem uma mensagem com estes números, não se trata de um contacto telefónico nem um palpite para a lotaria. Mas para algumas pessoas pode ser a sorte grande, pois quer dizer "Amo-te para sempre"... na China. Isto porque aquele número, quando se pronuncia, tem a sonoridade muito parecida à daquela frase. Se por acaso a resposta for um "513", desiluda-se. Pelos mesmos registos sonoros, é muito semelhante à frase "Quero acabar a relação".

O respeitinho é sempre muito bonito!
Num casal de japoneses, a mulher dirige-se ao marido com "anata", o pronome pessoal "vós", e o marido responde com kimi" (tu). Mas, segundo o contexto e entoação, estes pronomes pessoais são mais igualitários e podem também significar "querido(a)"!
Ainda no Oriente, os coreanos utilizam "tchaginya" como expressão amorosa, que se traduz por pelos reforçados " meu meu" ou "minha minha".

"Amor é fogo que arde..."
Na Austrália, há um povo aborígene que inventou um termo para quando um casal se aquece de mão dadas e dedos entrelaçados, perto do fogo. A palavra é "putuwa".

"Tás surda ou quê?"
Infelizmente, como "não há bem que nunca se acabe...", no sentido inverso, isto é no do desamor, a palavra "talâq" (em árabe significa repúdio"), se repetida 3 vezes, oficializa o divórcio entre os muçulmanos, sem necessidade de muita papelada! 


Há EMERGÊNCIAS e emergências

Duas jovens adolescentes que se tornaram personagens globais num curto espaço de tempo, com direito a dirigirem-se ao mundo no palco da ONU. Uma (Greta), nascida num dos países mais desenvolvidos do planeta, ficou conhecida por fazer greve às aulas, com o objectivo de alertar o mundo para os problemas climáticos do planeta. A outra (Malala), paquistanesa de origem humilde, ficou conhecida mundialmente depois de ter sido perseguida e baleada na cabeça, por desafiar os talibãs ao ir à escola quando tinha 15 anos. Greta tem milhões de seguidores nas escolas e universidades, nas ruas, nas redes sociais, nos jornais e televisões. Malala tem milhões de impossibilitados de a seguirem no direito a estudar por motivos políticos, religiosos ou económicos. Milhões que são forçados a trabalhar desde a infância para produzir alimentos, vestuário, "gadgets", destinados aos da mesma idade que se mobilizam para reclamarem a EMERGÊNCIA de salvar o planeta. E quem reclama a emergência de salvar aqueles? Ah, esses não chateiam nem votam ou dão votos...