Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Estrelas na noite

Retira os óculos, para descansar um pouco. Os olhos. E a curvatura recôncava do nariz.
Da janela da sala avista, de onde em onde, pequenas ampolas eléctricas. Povoando a noite. Seus brilhos redondos, interpretam-nos, grosseiramente, seus olhos míopes. Como imensas estrelas. Deslocadas. Ou terrivelmente brancas, ou agressivamente amarelas, ou suavemente. Verdes.
Estou cada vez pior, pensou. Vou acabar ceguinha de todo.
Liga o rádio.
*
Índia... A tua imagem...
Sempre comigo vai...
*
Oh, há quanto tempo não ouvia isto… Canção que tinha sido tão familiar. De tão insistentemente repetida. E, agora. Na bela voz da Gal Costa... Parecendo-lhe ainda mais bela...
*
Vai até à janela. Chega o nariz à vidraça. Que a separa do frio e da noite. E da distância. O bafo quente da respiração faz-lhe transpirar o vidro…
Distraidamente, ergue a mão. Para apanhar uma dessas estrelas. Caídas. Lá tão longe. E, no entanto, tão perto.
A mão tropeça-lhe na janela.
Cada vez pior, sorria consigo própria. Cada vez pior, sorriu. Sem se aperceber. De que sorria...