Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

Profissão: nadador-salvador

Se há uma atividade que associo imediatamente à sazonalidade da indústria turística algarvia, com tudo o que isso tem de periclitante, essa atividade é a de nadador-salvador, bastante dependente da época balnear e dos critérios – tantas vezes inconfessáveis – dos concessionários que servem.

Não me surpreende, portanto, a recente notícia de que os concessionários de praia do Algarve estão preocupados com a falta de nadadores-salvadores para a época balnear que se avizinha, tão pouco atrativa é essa função, quer em termos monetários quer ao nível das condições de trabalho.

Alegadamente para suprir essa lacuna, o presidente da Associação dos Industriais e Similares Concessionários das Praias da Orla Marítima do Algarve, Artur Simão, veio a público defender que a exigência de dois nadadores-salvadores por concessão seja reduzida em períodos de menor afluxo.

Segundo o responsável, “fora da época balnear, para qualquer coisa abrir, tem de funcionar com dois nadadores-salvadores. Neste momento, em que as coisas não são rentáveis, seria de bom-tom ter só um nadador-salvador. Várias concessões, se calhar, abriam e as praias já tinham, em determinadas alturas, um nadador-salvador. É melhor ter um do que não ter nenhum”, afirmou à Lusa.

Na minha opinião, esta postura até faz sentido, ao colocar em causa uma daquelas normas e regras decididas por quem está a leste da realidade, legislando sobre matérias das quais não percebe patavina.

Uma coisa é certa, a época balnear de 2023 está à porta (arranca a 15 de maio em Albufeira e a 1 de junho no resto da região) e os concessionários já se começam a deparar com o recorrente problema da exiguidade de pessoas dispostas a garantir a segurança no mar fronteiro aos areais que exploram.

E se não temos um levantamento apurado e atual sobre o número de nadadores-salvadores necessários para suprir as concessões autorizadas nas praias algarvias, também escasseia gente devidamente formada, o que leva o mercado a valer-se de imigrantes, sobretudo brasileiros.

Tudo isto porque não há uma aposta, estratégica e séria, na preparação de pessoas capacitadas para acudir aos sinistrados nas águas desta região, extremamente dependente do turismo de sol e mar.

Essa aposta, penso eu, deveria ser acompanhada por garantias e incentivos à profissionalização do nadador-salvador, cujas carências continuam a ser supridas por jovens estudantes em tempo de férias, ou por outros semi-voluntários que passados seis meses (ou menos…) caem no desemprego, alimentando o nefasto fenómeno da sazonalidade, tão pernicioso para o tecido social algarvio.

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