Musique-se
Paulo Cunha
O regresso ao palco
- Partilhar 01/08/2021
Olho para
algumas fotografias que vão passando no screen saver do meu computador e,
por vezes, sou assaltado por uma mistura
de saudade com nostalgia, tais as boas
recordações que guardo dos ensaios e das
atuações musicais que realizei ao longo
da minha vida adulta. Sem ter sido por
vontade própria, de um dia para o outro
eu e muitos outros vimo-nos impedidos de
realizar algo que nos proporciona um
enorme prazer: tocar com pessoas e para
pessoas.
Numa altura
de alguma retoma de uma certa
normalização artística, os músicos que
já tiveram o privilégio de – finalmente
– pisar o almejado palco são unânimes em
proferir que, apesar de terem tocado
para plateias reduzidas, mascaradas e
afastadas, experienciaram uma sensação
ótima e entusiasmante. Acredito que seja
um prazer redobrado, e todos esses
sentimentos passam do proscénio para o
público, que, obviamente, retribui. Por
isso mesmo, esta é uma ótima altura para
retomar as idas aos espetáculos
musicais!
As saudades dos ensaios presenciais e do palco são gigantes. Os músicos estão ansiosos por voltar a sentir aquele frio miudinho, bem como as “borboletas no estômago”, antes de entrarem em palco, para então libertarem toda a criatividade e energia contidas. Para além da retribuição pecuniária, a catarse e a metamorfose que as palmas proporcionam e operam é indescritível. É preciso lá estar – no palco – para sentir!
Há quem
aconselhe os músicos mais propensos aos
nervos iniciais a não enfrentar
diretamente o olhar do público, traçando
um palmo acima da linha das cabeças e
fixando nesse ponto o olhar.
Efetivamente, funciona. Os elementos do
público ficam assim com a sensação que
os músicos estão a comungar das suas
expressões, não estando. Mas depois das
primeiras músicas, nada é melhor para
quem pisa um palco do que compartilhar e
responder às diversas expressões e
manifestações que tem à sua frente.
Olhos nos olhos, sem qualquer tipo de
máscara.
Agora que, fora de portas, o verão nos escancara as muitas e diversas entradas disponíveis para a apreciação e fruição da música viva e ao vivo, aqui vos deixo o apelo para que lutem contra um certo amorfismo que este vírus semeou. Saiam de casa e apoiem, ao vivo, os músicos que merecem, fizeram por merecer ou têm quem os mereça. A música sairá sempre a ganhar!
- n.27 • agosto 2021