Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

O regresso ao palco

Olho para algumas fotografias que vão passando no screen saver do meu computador e, por vezes, sou assaltado por uma mistura de saudade com nostalgia, tais as boas recordações que guardo dos ensaios e das atuações musicais que realizei ao longo da minha vida adulta. Sem ter sido por vontade própria, de um dia para o outro eu e muitos outros vimo-nos impedidos de realizar algo que nos proporciona um enorme prazer: tocar com pessoas e para pessoas.

Foi um ano e meio em que nos vimos privados de um dos maiores desideratos da música – a partilha. Naturalmente, só o tempo se encarregará de mostrar os estragos, de vária ordem, que um maldito vírus conseguiu operar na orgânica produtiva de várias estruturas musicais deste país. 

Numa altura de alguma retoma de uma certa normalização artística, os músicos que já tiveram o privilégio de – finalmente – pisar o almejado palco são unânimes em proferir que, apesar de terem tocado para plateias reduzidas, mascaradas e afastadas, experienciaram uma sensação ótima e entusiasmante. Acredito que seja um prazer redobrado, e todos esses sentimentos passam do proscénio para o público, que, obviamente, retribui. Por isso mesmo, esta é uma ótima altura para retomar as idas aos espetáculos musicais!

As saudades dos ensaios presenciais e do palco são gigantes. Os músicos estão ansiosos por voltar a sentir aquele frio miudinho, bem como as “borboletas no estômago”, antes de entrarem em palco, para então libertarem toda a criatividade e energia contidas. Para além da retribuição pecuniária, a catarse e a metamorfose que as palmas proporcionam e operam é indescritível. É preciso lá estar – no palco – para sentir!

Há quem aconselhe os músicos mais propensos aos nervos iniciais a não enfrentar diretamente o olhar do público, traçando um palmo acima da linha das cabeças e fixando nesse ponto o olhar. Efetivamente, funciona. Os elementos do público ficam assim com a sensação que os músicos estão a comungar das suas expressões, não estando. Mas depois das primeiras músicas, nada é melhor para quem pisa um palco do que compartilhar e responder às diversas expressões e manifestações que tem à sua frente. Olhos nos olhos, sem qualquer tipo de máscara. 

Agora que, fora de portas, o verão nos escancara as muitas e diversas entradas disponíveis para a apreciação e fruição da música viva e ao vivo, aqui vos deixo o apelo para que lutem contra um certo amorfismo que este vírus semeou. Saiam de casa e apoiem, ao vivo, os músicos que merecem, fizeram por merecer ou têm quem os mereça. A música sairá sempre a ganhar!