Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Uma lenda Grega que é um exemplo de Serenidade

“Omnia mea mecum porto”, a célebre frase de Bías, de Priene

BÍAS é um dos lendários “sábios da Grécia” – “sábios”, na acepção de “filósofos”. Bías, um filósofo, terá vivido no século VI aC. Seria natural de Priene, na Jónia – antigo nome de uma região da Anatólia (na Turquia actual).

* * *

A primeira vez que ouvi falar de Bías foi ao meu professor de Grego, no 6º ou 7º ano do antigo programa do Liceu.
Contava ele que Bías ia numa viagem no Mediterrâneo, quando surgiu uma tremenda tempestade que ameaçava afundar a bela trirreme.
Na confusão, o comandante mandou que os passageiros lançassem ao mar todas as cargas. E todos os tripulantes e viajantes se apressaram a lançar borda fora todos os seus haveres!
...Apenas Bías se conservava muito sentado no tombadilho, encostado a um dos mastros.
O comandante passou e admirou-se. Interpelou-o:
– Então, Bías, toda a gente se mexeu, menos tu?! Vá, despacha-te, vai buscar as tuas coisas! Deita tudo ao mar!
E Bías respondeu com toda a serenidade... – E aqui, o nosso Professor de Grego interpelava a turma: Que é que as Meninas acham que ele respondeu?! Hã?!...
Ninguém sabia responder.
E o Dr. Inocentes sorriu e rematou:
– “Omnia mea mecum porto.” Ele disse: “Omnia mea mecum porto”!... Que significa: “Tudo o que eu tenho, trago comigo.” – Quer dizer, ele não possuía nada. Nada de bens materiais! Toda a sua riqueza, todos os seus bens, eram a sua sabedoria!
Alguém perguntou:
– Sr. Doutor, se ele era Grego, porque é que essa frase é dita em Latim?
Ao que o Dr. Inocentes esclareceu:
– Muito bem perguntado! É que foi Cícero, o notável causídico Romano, do século I aC, quem nos deixou o relato deste episódio... 

* * *

Nunca esqueci esta história, e uma ou outra vez a contei aos meus alunos.
No entanto, encontrei na Net uma outra versão:
Bías ia a fugir da sua cidade juntamente com outros cidadãos, devido a uma invasão de inimigos...
Toda a gente fugia com tralhas e haveres às costas. Excepto ele...
Alguém lhe perguntou:
– Bías! Então, não trazes nada contigo?! Não tentas salvar alguma coisa?!
E a resposta teria sido a mesma:
– “Omnia mea mecum porto.” – Tudo o que tenho, trago comigo.

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