à Deriva
Fernando Vieira
Carnaval pegado
- Partilhar 05/11/2021
A julgar pela cadência
com que se estão a efetuar atos eleitorais neste
país à beira-mar plantado, até parece que os
portugueses se pelam por uma boa campanha e não
perdem nenhuma oportunidade de exercer o seu direito
cívico.
Mas, depois, vai-se a ver e o que
temos são crescentes e preocupantes índices de
abstencionismo, aos quais a classe política não dá a
mínima bola, convencida que está dos seus méritos
republicano-democráticos e do seu abnegado espírito
de missão em prol do povo.
Pior que isso,
revela-se pouco ou nada sensível aos transtornos
funcionais, a todos os níveis, que as dispensáveis
crises governativas, geradas por guerrinhas
estratégicas do alecrim e da manjerona, causam no
quotidiano do português comum, que legitimamente
apenas ambiciona desfrutar de uma qualidade de vida
proporcional à carga tribuária que o asfixia.
Em vez de a nossa elite política se debruçar em
mixórdias como o hipotético recrudescimento da
pandemia ou o avassalador aumento do preço dos
combustíveis, já está tudo a cogitar quais as
melhores táticas para a caça ao voto agendada para
30 de janeiro próximo.
Cá pelos algarves,
onde é expetável mais uma pífia ida às urnas, como
vem sendo tradição, começam já a notar-se as
movimentações das forças partidárias no sentido de
elaborar as suas listas de putativos deputados,
quantos deles ignorantes da realidade desta região,
à qual nunca prestarão contas, por mais eleitos que
por cá sejam.
A propósito desta fase de
incertezas, iniciada no momento em que se desenhou a
crise forçada por politicoides de pacotilha e
aplaudida por populistas fascizoides, pus-me a fazer
contas sobre o tempo que mediará até ao exercício
pleno do XXIII Governo Constitucional, nomeadamente
no que tange ao congelamento de medidas e programas
de benefício e incentivo ao Algarve e aos algarvios,
e enquanto o próximo Orçamento da República não
entrar em funcionamento.
Assim, e após as
passeatas em janeiro dos candidatos às Legislativas
e seus apaniguados, distribuindo bonés, lapiseiras,
bandeirolas, porta-chaves, autocolantes e outras
(in)utilidades, só teremos novidades palpáveis - na
melhor das hipóteses - lá por alturas do Carnaval…!
- n.30 • novembro 2021