Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

A(des)gosto

Tinha eu tenra idade e escassa noção do que me rodeava, já ouvia dizer que os algarvios suspiram ao longo do ano pela chegada de agosto… para ansiarem pelo seu fim o mais depressa possível.

Salvo os exageros da ordem, esse chavão não deixa de continuar a fazer algum sentido, mesmo nestes dois últimos verões flagelados pela Covid-19, pois a região algarvia ainda é o destino preferido para as merecidas e retemperadoras férias de muito boa gente.

Este agosto não está a ser exceção, a atestar pelos largos milhares de turistas portugueses que ‘invadem’ as estâncias balneares e os espaços de recreação aquática, além das grandes superfícies comerciais e dos restaurantes e similares.

Outros atrativos que o Algarve possui, sobretudo naturais e culturais, continuam a ser ignorados pela esmagadora maioria dos visitantes que nos demandam… Mas isso é outra estória.

Valha-nos, pois, o mercado nacional, já que os turistas britânicos, franceses, alemães e quejandos têm enfrentado entraves de vária ordem – não apenas sanitária – e estão temporariamente apartados deste nosso cantinho, o que origina um grave rombo na economia local.

Mas não é esse o principal problema com que o Algarve se depara nesta época: os fogos rurais e a seca severa também costumam concorrer para agostos bastante agitados, onde coisa que não falta são motivos para o ‘stress’ dos autóctones, vulgo algarvios.

Até ao momento, e felizmente, não se têm registado incêndios de grande monta, mas no que toca à crónica falta de água nas nossas barragens, aí o caso muda de figura.

De acordo com o mais recente boletim climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, no final de julho mantinha-se a situação de seca meteorológica em Portugal, com significativa parte do Algarve em seca moderada e a preocupante diminuição dos valores de percentagem de água no solo, inferiores a 20 por cento.

Também desde pequeno, são recorrentes os alertas para a desertificação (irreversível…?) do nosso território, cujas cotas das barragens na região raras vezes ultrapassam médias pífias.

Ainda, e mais uma vez, faz décadas que ouço e leio sobre uma provável rede de barragens, de norte a sul, capacitada para disponibilizar água onde e quando fizer falta. Projetos e ideias que não passaram do papel.

Portanto, e por tudo isto, agosto leva-me a crer que – afinal – as tradições ainda são o que eram. Nos casos em apreço, para mal dos nossos pecados.

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