Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

AS PRAXES QUE NÃO SÃO PRAXES

Voltou ao primeiro plano das notícias e das preocupações gerais o caso do Meco, onde morreram vários estudantes, supostamente no desenvolvimento de uma praxe académica de todo desajustada e perfeitamente evitável.

O julgamento decorre e tem contornos de grande complexidade de decisão, ou seja, de atribuição de culpa, tendo em vista a forma do sucedido e como foi sucedido, embora tenha surgido um novo testemunho que aponta para o facto de os praxados terem pedras amarradas aos pés, o que violenta a praxe e a coloca num plano de todo indesejável.

Não posso, nem devo, percorrer um caminho que apenas diz respeito ao Tribunal.

O que posso e devo é insurgir-me contra determinadas praxes que não têm razão de ser e que apenas são actos de violência gratuita, claramente condenados pelas entidades responsáveis pelo ensino, pelos encarregados de educação, pelos familiares e pelos próprios praxados.

Acredito e percebo que a praxe configura um acto académico a recordar pela vida fora, tal como a queima das fitas e a imposição do grelo. Mas não acredito na bondade académica de quem praxa e na suposta inocência colocada na elaboração do acto e é contra isso que me insurjo, me revolto e protesto.

Imagino a dor dos pais que perderam os filhos na praia do Meco, no meio de uma suposta acção académica que apenas pretendia “marcar” uma etapa da vida universitária. E imagino que eles estarão nesta altura a pensar que aquela acção, tal como foi feita, não servia para nada, ou em contraposição servia para colocar em perigo a vida dos filhos.

Ora, isto não faz sentido, não tem razão de ser, não é lógico, não é humano, não tem nada a ver com uma academia saudável. Por isso, entendo que estas situações devem ter um limite de bom senso e de costumes aceitáveis que deixem os praxados felizes e possam recordar os dias da iniciação de uma forma perfeitamente sorridente e positiva.

FERNANDO CORREIA