Daniela Graça

Espelho Cinemático

Daniela Graça

Hiroshima, Meu Amor (1959)

Em 1959, após ter dedicado uma década à realização de documentários, o realizador Alain Resnais apresentou a sua primeira longa-metragem, Hiroshima, Meu Amor. O filme demarcou-se de imediato pela sua linguagem visual poética e é até hoje um dos filmes mais celebrados do cinema francês, um marco da Nouvelle Vague e uma obra incontornável no cinema de autor.

Hiroshima, Meu Amor é o entrelaçar do passado e do presente, de trauma pessoal e de uma grande tragédia pública, é uma dança entre memória e esquecimento. O encontro, por sorte do acaso, entre uma atriz francesa (Emmanuelle Riva), a trabalhar num filme sobre Hiroshima no Japão, e um arquiteto japonês (Eiji Okada), resulta num romance breve, mas intenso, que serve como pano de fundo para dialogar sobre o bombardeamento de Hiroshima e as sequelas da guerra.  Ambas as partes estão casadas e a atriz irá voltar para França dentro de um dia, ou seja, é um amor condenado desde o início, mas o par continua a encontrar-se uma vez que são movidos pelo desejo mútuo de conhecerem-se um ao outro e entenderem como se tornaram nas pessoas que são.

Este desejo de conhecer depressa transforma-se numa ocasião para auto-examinar o passado e exorcizar feridas profundas e escondidas. Desta forma, Hiroshima, Meu Amor desdobra-se elegantemente numa estrutura de flashbacks inovativa. No fundo, o filme é o desbravar da memória, é a observação dos movimentos de um relógio de areia. A estrutura narrativa flui suavemente devido ao guião escrito pela romancista Marguerite Duras, pelo qual recebeu uma nomeação a Óscar para Melhor Argumento Original, e pelo tom definido pelo olhar sensível, íntimo e simbólico de Resnais, que permeia todo o filme. Com este filme, Alain Resnais ganhou o prémio de melhor filme do Sindicato Francês de Críticos de Cinema, de melhor filme estrangeiro do Círculo de Críticos de Cinema de Nova Iorque e um prémio da Academia Britânica de Cinema.

Hiroshima, Meu Amor é simultaneamente uma história de amor e um filme anti-guerra. A impossibilidade deste relacionamento amoroso e o facto que nunca mais se irão ver afeta ambos de forma impiedosa e resulta consequentemente na confissão de vivências, passadas durante a guerra, nunca antes partilhadas. Estas revelações e reflexões são feitas por entre as ruas, cafés e hotéis de Hiroshima, e desta forma, são interligadas com a devastação causada pela bomba atómica. É um filme poético sobre o tempo, o amor e a guerra. Hiroshima, Meu Amor é sobre aceitar que o esquecimento face à tragédia, que acontece aos poucos e poucos, não só é inevitável como também é necessário para conseguir prosseguir com a vida.

Hiroshima, Meu Amor é um filme anti-bélico essencial sobre a vida após a Segunda Guerra Mundial. É uma obra-prima cinematográfica imperdível.

Hiroshima, Meu Amor encontra-se disponível para streaming na plataforma Filmin.

Classificação: ★★★★★