reflexões in verso
Afonso Dias
poema para jovens como eu
- Partilhar 30/11/2021
poema para jovens como eu
enorme era o quintal e era o tempo
gigante o pai e forte mais que a noite
a distância mais longa do que o vento
desmesurada a espera pela aurora
tudo
era imenso na verdura
pequeno era só
eu sei-o agora
no tempo cresce o
corpo mirra a ideia
mingua o linho
novo em água fresca
encolhem os
lugares e as figuras
passo a
passo menos são os passos
carecidos
pela fome do caminho
e se tudo se
aclara na viagem
mais pequeno se faz
o que atrás fica
atenta pois nas
redes e nos ecos
que mordem as
canelas da frescura
lembra-te antes
do vermelho gordo
que tinham os
morangos pelas leiras
no tempo em
que tudo era à medida
do tamanho
exacto da doçura
sempre que
voltares à casa velha
verás a antiga
escola pela sombra
que alaga o
cristalino nos teus olhos
e apouca a
redonda arquitetura
sem arestas a
acoitar papões
(que grande era o
recreio que afobava
no um-dó-li tá do
mata e dos piões)
melhor que não
voltes antes deixa
no teu olhar que
tudo guarda inteiro
o tamanho das
coisas que elas tinham
no corpo que
elas são o que elas eram
e se
quiseres há-de quedar intacta
a
estatura de tudo a verdadeira
como
ela era antes da saudade
que sempre
se quer alongar sozinha
conserva
os risos claros desdentados
e os de
dentes novos incompletos
a
caçoarem dos teus nervos inquietos
30.11.2021
- n.31 • dezembro 2021