Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

zanga e frutos vermelhos

zanga e frutos vermelhos

s. teotónio martírio
de mui longes himalaias
ferve em mirtilos e amoras
especiarias no vento
acenam reis do oriente
às framboesas que choram

ao sudoeste acabrunhado
arribam bandos de pobres
mais pobres que na charneca
onde a pobreza é secura
silêncio desembestado

monta a banca no convés
o corleone assanhado
camarata sem chuveiro
poupa na água da rega
o metro quadrado é cego
e é cego o papel selado
não venham cá com o governo
se o sef não fala pobre
venha o oftalmologista
fazer o nó da gravata
ao ministro enevoado
caem pobres na falésia?
floresce a infecção?
proteja-se o contrabando
salve-se a conta-corrente
e a alta-cilindrada

para quê tanta ralação?
são só pobres quase nada

e a indiferença ecoa
no peito dos himalaias
não deixes que no teu peito
o que é bom se desvaneça

e o caril esvoaça a lua
e o estado não estuda o molho
que no oriente em odemira
fede algemas requentadas
suor de almas penadas
que penas penam cá longe

só a santa paciência
cofia o bigode à morsa
e azeda-me a brotoeja
que até o surrealismo
se me entra em ebulição
iscas com elas entoam
serenatas aos pategos
e a água benta do caldo
fede na boca ao ventura

e o xico do cêdêesse
que sim sem saber o quê

valha-me o s. teotónio
boa pessoa acho eu

cuidai lá de quem precisa
digo eu à governança
bandidos é na cadeia
acreditai no que digo

e acendei os sorrisos
só para quem os merecer

pronto

4.5.2021

l>